Pesadelo continua: entenda o sequestro das centenas de jovens na Nigéria
Conheça os motivos do rapto e o que pode acontecer às meninas
Internacional|Do R7
O pior pesadelo dos pais 276 meninas se tornou realidade na Nigéria: elas foram para a escola e não voltaram para casa. As estudantes foram sequestradas em uma escola de Chibok, no nordeste da Nigéria, pelo grupo radical islamita Boko Haram, em meados de abril.
Até o momento, 53 meninas conseguiram fugir e 223 continuam em cativeiro.
Na segunda-feira (5) foi divulgado um vídeo no qual o líder do grupo, Abubakar Shekau, reivindicou o sequestro e prometeu tratar as jovens como "escravas", "vendê-las" e "casá-las" à força, como punição pela “educação ocidental”, que estavam recebendo.
Líder do Boko Haram promete vender cada uma das estudantes sequestradas
EUA ajudarão nas buscas por centenas de nigerianas sequestradas
O caso ainda está envolto em diversos mistérios, mas algumas questões foram respondidas pela rede de TV CNN.
Por que a Boko Haram raptou as meninas?
O nome do grupo de militantes islâmicos se traduz como "educação ocidental é um pecado". Eles se opõem à educação das mulheres.
Sob a sua versão da lei islâmica, as mulheres não devem aprender a ler e escrever, mas ficar em casa para criar os filhos e cuidar de seus maridos.
O grupo já havia sequestrado meninas e mulheres antes?
Sim. Em novembro do ano passado, o grupo raptou dezenas de mulheres cristãs. Em sua maioria, elas foram resgatadas no fundo de uma floresta em Maiduguri.
Algumas delas eram crianças e estavam grávidas ou haviam tido filhos e se casado com os sequestradores após serem convertidas à força ao Islã.
O que eles fazem com as mulheres?
O grupo está sempre se mudando para escapar da repressão do governo. Muitos membros deixam suas esposas para trás quando se dirigem a esconderijos nas florestas.
Algumas das vítimas são sequestradas para tomar o lugar dessas mulheres na realização dos serviços domésticos, além de serem forçadas a ter relações sexuais com os homens do grupo.
Todas as escolas podem ser alvo do grupo?
Os alvos principais são mulheres cristãs e estudantes muçulmanas matriculados em escolas seculares. Nem todos os casos envolvem sequestro, mas os atentados são sempre violentos.
Em fevereiro, um militar do Boko Haram foi responsabilizado pela morte de pelo menos 29 alunos em um ataque a uma faculdade federal em Buni Yadi, no estado de Yobe. Outro exemplo sangrento aconteceu em julho do ano passado, quando 20 estudantes e um professor morreram após serem baleados no mesmo Estado.
Quais são as chances de as meninas serem resgatadas?
As buscas não são fáceis, já que o local para onde elas foram levadas permanece desconhecido, mas acredita-se que seja uma área remota e muito arborizada. O local do rapto também próximo a fronteira com Camarões, o que significa que as meninas podem ter sido levadas a países vizinhos, como o Chade ou Níger.
Além disso, o grande número de reféns pode limitar as opções da Nigéria de apelas a ataques aéreos, por exemplo. Um ataque terrestre também não é uma boa opção, já que o terreno é desconhecido e o combate seria contra militantes fortemente armados.
Quem começou o Boko Haram?
Mohammed Yusuf fundou o grupo há 12 anos, como parte de seu impulso para um Estado islâmico puro na Nigéria.
Desde que a polícia matou em 2009 o líder do Boko Haram, Mohamed Yusuf, os radicais mantém uma sangrenta campanha que já deixou mais de 3.000 mortos.
Seus alvos incluem edifícios governamentais, quartéis de polícia, escritórios de jornal, mercados de aldeias, igrejas e mesquitas.
Este é um grupo vinculado à Al Qaeda?
Os Estados Unidos dizem que o grupo militante tem ligações com uma filial da Al Qaeda na África ocidental e com grupos extremistas no Mali. Apesar de as ligações serem difíceis de ser comprovadas, o grupo está na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado americano.
O que o Boko Haram quer?
Seu objetivo é impor uma aplicação mais rigorosa da lei islâmica em todo o país mais populoso da África, que é dividido entre um norte de maioria muçulmana e um sul principalmente cristão.
Nos últimos anos, seus ataques se intensificaram e parecem ter expandido seu foco para a destruição do governo nigeriano. No nordeste do país, onde o Boko Haram tem sido mais ativo, está entre as regiões menos educadas na Nigéria.
O que é a Nigéria está fazendo para combater o grupo?
No ano passado, o presidente Goodluck Jonathan declarou estado de emergência em três estados do nordeste do país: Borno, Yobe e Adamawa.
Esta declaração deu as forças de segurança do país ampla liberdade para ir atrás de suspeitos de terrorismo. Mas grupos de direitos humanos acusaram a Nigéria de ir longe demais no uso de táticas pesadas, como buscas ilegais, tortura e execuções extrajudiciais.
A campanha intensificada do governo pode ter encorajado o Boko Haram a se tornar ainda mais violento. A Anistia Internacional calcula que pelo menos 1.500 pessoas — mais da metade deles civis — morreram nos três primeiros meses de 2014.