A Embaixada do Brasil em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, foi atacada nesta terça-feira (28) em meio a protestos contra o conflito que assola Goma, maior cidade do leste do país africano. Manifestantes, revoltados com o avanço do grupo rebelde M23 e com o que chamam de conivência de nações estrangeiras diante da situação, também atacaram as embaixadas dos Estados Unidos, França, Bélgica e Ruanda, segundo a agência de notícias AP. Em nota, o Itamaraty disse que os servidores “não foram atingidos nesse incidente” e que a bandeira brasileira “foi retirada e levada pela multidão”. A pasta também disse confirmar que o governo congolês atuará para conter a crise. Os manifestantes protestam contra o que veem como omissão ou conivência de nações estrangeiras diante do avanço do M23 em Goma, que está dominada pelo grupo desde segunda-feira (27), segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).O Congo sofre há décadas com a violência causada por milícias, como o M23, formado majoritariamente por combatentes tutsis, que diz que a ofensiva na região é necessária para defender os interesses da comunidade minoritária de sua etnia.Desde 2022, o grupo tem intensificado investidas contra o país. Ele acusa o governo congolês de não cumprir um acordo de paz firmado entre os dois, em 2009, e de não integrar totalmente os tutsis ao exército e à administração nacionais. Hoje, o M23 é responsável por controlar grande parte da província de Kivu do Norte, da qual Goma é a capital e que faz fronteira com Ruanda. A ONU diz que, além dos combatentes do M23, mais de 3.500 soldados ruandeses que lutam ao lado do grupo entraram em Goma. O conflito entre os rebeldes e as forças congolesas, que contam com ajuda dos capacetes azuis da ONU, já deixou 17 mortos e mais de 400 feridos na cidade, segundo a Cruz Vermelha, que realiza uma missão na região.De acordo com a agência de notícias Reuters, a ofensiva em Goma também é justificada pelos rebeldes como uma resposta à ameaça de milícias étnica hutus, especialmente as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR). A FDLR foi fundada por hutus que fugiram de Ruanda após participarem do genocídio de 1994. O episódio deixou quase um milhão de tutsis e hutus moderados mortos em meio à guerra civil vivida pelos ruandeses.Agora, o Congo acusa o governo tutsi de Ruanda de apoiar os rebeldes do M23. Ruanda, que classifica o FDLR como um “grupo genocida”, nega o apoio. Os dois países cortaram relações no fim de semana, após tentativas frustradas de negociações diplomáticas entre ambos.A água e a eletricidade em Goma estão cortadas desde domingo (26) e o acesso à internet foi interrompido no dia seguinte, segundo a ONU. Na terça-feira, o M23 tomou o aeroporto internacional da cidade, dificultando ainda mais os esforços de ajuda humanitária.Ainda na terça, o tenente-general do Exército Brasileiro, Ulisses de Mesquita Gomes, foi nomeado como novo comandante da força de estabilização da ONU no país. Ao todo, 22 militares brasileiros participam da missão, dos quais cinco permanecem em Goma, segundo o Exército.Desde domingo (26), quando os rebeldes começaram a se aproximar de Goma, milhares de moradores fugiram da cidade. Muitos atravessaram a pé a fronteira do país com Ruanda, em Gisenyi. A escalada do conflito, que já dura mais de uma década, preocupa autoridades mundiais. Segundo a ONU, mais de 6 milhões de pessoas foram deslocadas na região devido aos combates.O avanço em Goma é o ápice de uma batalha prolongada entre os rebeldes e o governo, que fez com que várias cidades ao longo da fronteira com Ruanda caíssem nas mãos dos insurgentes. Analistas alertam que a recente escalada de hostilidades pode desestabilizar ainda mais a região, que já abriga uma das maiores crises humanitárias do mundo.O presidente de Ruanda, Paul Kagame, disse em uma publicação no X na terça-feira que concordou com a necessidade de um cessar-fogo durante uma conversa telefônica com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. No entanto, não deu nenhuma indicação de que cederia às exigências de retirada de Goma. A União Africana e os Estados Unidos pediram a retirada imediata dos rebeldes das áreas ocupadas.Nesta quarta-feira (29), a Comunidade da África Oriental, formada por oito países membros -- entre eles Congo e Ruanda -- deve realizar uma cúpula de emergência sobre a crise. Uma fonte do governo ruandês afirmou à Reuters que seu presidente irá comparecer. Já o presidente congolês, Felix Tshisekedi, não deve participar.