Leões-marinhos têm atacado banhistas e surfistas de maneira inesperada na Califórnia, nos Estados Unidos. Os incidentes, que contrastam com a personalidade carinhosa e brincalhona dos animais, podem significar uma crise ambiental: a intoxicação desses mamíferos por ácido domoico, uma toxina produzida por algas nocivas.Phoebe Beltran, uma adolescente de 15 anos de Long Beach, foi uma das vítimas. Ela foi mordida por um leão-marinho durante um treino para se tornar salva-vidas, no dia 30 de março. Beltran teve o braço direito coberto por mordidas, arranhões e hematomas, embora não tenha precisado de pontos. Ela disse à emissora norte-americana CNN que, inicialmente, achou que estivesse sendo atacada por um tubarão.Um surfista, identificado como RJ LaMendola, também sofreu um ataque. Em uma publicação nas redes sociais, ele descreveu a expressão do leão-marinho como “selvagem, quase demoníaca”. “Foi uma experiência angustiante e traumática”, disse, segundo o jornal britânico The Guardian.De acordo com especialistas, o motivo por trás desses ataques é ambiental. A proliferação de algas tóxicas, potencializada por um fenômeno natural conhecido como ressurgência, está envenenando os leões-marinhos. O ácido domoico, uma neurotoxina produzida por algas marinhas microscópicas, entra na cadeia alimentar aquática e afeta o sistema nervoso dos animais, levando a convulsões, desorientação e, em alguns casos, reações agressivas.“Quando são afetados por essa toxina, eles ficam loucos”, disse John Warner, do instituto Marine Mammal Care Center, em entrevista à CNN. “Eles ficam totalmente desorientados e assustados, lutando para não se afogarem”.Warner diz que os leões-marinhos podem exibir um “comportamento de luta ou fuga”, o que explica interações perigosas com humanos que se aproximam sem que os animais os percebam.O Marine Mammal Care Center diz que registrou mais de 2.000 chamadas sobre animais doentes na Califórnia desde o início de março. Normalmente, o centro recebe até 4.000 ligações por ano.A West Coast Marine Mammal Stranding Network, uma rede de resgate de mamíferos marinhos, disse ao The Guardian ter recebido mais de 100 chamadas por dia sobre animais doentes.Com recursos limitados, as equipes priorizam os animais com maior chance de sobrevivência - que, para leões-marinhos, varia entre 50% e 65% com tratamento rápido. Para golfinhos, a toxina é quase sempre fatal.A frequência e a intensidade das florações de algas tóxicas têm aumentado ao longo dos anos, especialmente por causa das mudanças climáticas. Isso porque temperaturas mais altas na superfície do oceano, mais ácidas, favorecem a proliferação das algas, que também são alimentadas por fertilizantes agrícolas despejados em rios.“Antes, as florações aconteciam a cada poucos anos. Agora, são anuais”, disse Warner ao The Guardian. A ressurgência, processo em que ventos empurram nutrientes do fundo do oceano para a superfície, é natural, mas as condições atuais amplificam seus efeitos. Pequenos organismos, como zooplâncton e peixes, consomem as algas e, por sua vez, são ingeridos por predadores maiores, como leões-marinhos, golfinhos e aves marinhas, levando à intoxicação deles.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp