O cantor e compositor de rap, Yashar Shohret, de 26 anos, está preso há 20 meses em um centro de detenção na China por compor letras que “promoviam o extremismo”, segundo o grupo chinês de direitos humanos Weiquanwang.O jovem está desaparecido desde 9 de agosto de 2023, quando foi preso em Chengdu, na província de Sichuan, onde estudava na universidade da cidade. Não há informações sobre o curso que Shohret estava matriculado. Um novo relatório da Weiquanwang descobriu que Shohret foi condenado em 20 de junho de 2024 a três anos de prisão sob acusações de “promover o extremismo” e “posse ilegal de itens que promovam o extremismo”. O rapper recorreu da sentença, mas o segundo julgamento manteve a condenação original, com a pena de prisão vigorando até 8 de agosto de 2026. Shohret está atualmente cumprindo a pena na prisão de Wusu, em Xinjiang, segundo o grupo chinês de direitos humanos. Yashar Shohret é natural da cidade de Bole, na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no noroeste da China, onde 12 milhões de uigures enfrentam perseguição e vigilância sob o governo de Pequim. Os uigures são um povo de origem turcomena e pertencem a uma das 56 etnias oficialmente reconhecidas pela República Popular da China.Desde 2014, os uigures em Xinjiang foram afetados por controles sociais e restrições impostos pelo governo chinês. O Partido Comunista da China (PCC) ampliou a vigilância policial para monitorar sinais de “extremismo religioso”, que incluem possuir livros banidos, cultivar barba, ter um tapete de oração ou parar de fumar ou beber.Por conta da repressão, Shohret participava ativamente de manifestações contra o Estado chinês. Em novembro de 2022, foi detido por três semanas por integrar os protestos do “Livro Branco”, que levou milhares de uigures às ruas para reivindicar restrições mais brandas no contexto da covid-19.Os protestos de 2022 foram desencadeados por um grande incêndio em um prédio em Urumqi, no qual vários moradores uigures morreram. Muitos manifestantes levantaram folhas de papel brancas para simbolizar que suas vozes estavam abafadas.Na ocasião, Shohret cantou uma canção na língua uigur para as vítimas do incêndio e foi imediatamente reprimido pela polícia chinesa e detido por 21 dias sob suspeita de “reunir uma multidão para perturbar a ordem social”, disse o grupo Weiquanwang.O rapper, que se apresenta com o nome de “Uigga”, também sofreu represálias da polícia chinesa por conta do teor político das composições. Uma delas, uma canção de 2023 intitulada “Wake Up” (“acorde”, em inglês), foi listada no NetEase Cloud Music, um popular serviço de streaming de música chinesa.A letra continha os seguintes trechos: “Eles avançaram como chitas. Quem? Um grupo de caçadores… Quando acordei, o ambiente me fez mergulhar em pensamentos profundos.”“Na canção, Shohret parece se referir metaforicamente a si mesmo como uma presa em um ambiente hostil, cujo destino já está decidido”, disse Sawut Muhammed, diretor de Assuntos do Leste Asiático no grupo de defesa Congresso Mundial Uigur.“Essas palavras provavelmente foram vistas como uma ameaça ao Partido Comunista Chinês. Na visão do PCC, enfatizar a língua uigur pode levar a um aumento do nacionalismo uigur. Isso é prejudicial à visão de Xi Jinping de construir uma nação chinesa unificada”, acrescentou Muhammed.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp