Um relatório da inteligência dos Estados Unidos aponta que familiares do presidente chinês Xi Jinping continuam a gerenciar milhões de dólares em investimentos e interesses comerciais, levantando suspeitas de que possam ter se beneficiado da posição de Xi, apesar da rígida campanha anticorrupção iniciada na China há mais de uma década.A investigação foi conduzida pelo Escritório do Diretor de Inteligência Nacional (ODNI, na sigla em inglês) e sugere que parentes do líder chinês mantêm participações financeiras significativas, possivelmente impulsionadas por conexões políticas em empresas privadas e estatais.O relatório, divulgado em 20 de março, afirma que dirigentes importantes do Partido Comunista Chinês (PCC) podem ter tido acesso a informações privilegiadas, favorecendo investimentos familiares.O documento destaca que a estrutura de poder centralizada na China, aliada à falta de supervisão independente e à responsabilização mínima, especialmente nos governos provinciais, cria um ambiente propício para a corrupção.“A corrupção é uma característica endêmica e um desafio para a China, sendo viabilizada por um sistema político em que o poder está altamente centralizado nas mãos do Partido Comunista Chinês (PCC), por um conceito de Estado de Direito centrado no PCC, pela ausência de mecanismos independentes de controle sobre os funcionários públicos e pela transparência limitada”, diz o documento.Segundo a análise, funcionários públicos no país podem acumular riqueza pessoal por meio de práticas ilícitas em uma taxa estimada entre quatro e seis vezes seus salários oficiais.Entre os mecanismos que favorecem o enriquecimento está a filiação ao Congresso Nacional do Povo da China (NPC), o órgão legislativo do país. O relatório aponta que a posição no NPC, frequentemente vista como um símbolo de status, permite acesso a informações governamentais sensíveis. Esse cenário incentiva a compra de influência por meio de subornos e a obtenção de vantagens financeiras mesmo após o término do mandato.Desde que assumiu o poder em 2012, Xi Jinping lançou uma ampla ofensiva contra a corrupção, prometendo erradicá-la em todos os níveis do governo, do PCC e do Exército. Segundo dados do ODNI, entre 2012 e 2022, cerca de cinco milhões de funcionários foram investigados, e 4,7 milhões considerados culpados.“Quando Xi assumiu o poder em 2012, ele lançou uma ampla campanha anticorrupção, prometendo uma abordagem de “tolerância zero” contra as “moscas” (quadros de baixo escalão) e os “tigres” (altos funcionários). A campanha também atingiu autoridades nos níveis departamental e de escritório, bem como nos níveis distrital e de divisão”, afirma um trecho do documento.“Entre 2012 e 2022, a Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCDI) e a Comissão Nacional de Supervisão investigaram quase cinco milhões de pessoas dentro do governo e do Partido Comunista Chinês, condenando 4,7 milhões de funcionários. Segundo Xi, seu objetivo era tornar os funcionários públicos ‘incapazes e relutantes em serem corruptos’”, acrescenta o relatório.Nos primeiros anos, a campanha teve como alvo figuras associadas aos antecessores de Xi, mas, ao longo da última década, se expandiu para atingir diferentes facções políticas, incluindo aliados do próprio presidente.Nos últimos meses, Xi removeu abruptamente diversos oficiais militares de alto escalão, entre eles o ministro da Defesa, Li Shangfu, e o almirante Miao Hua, ambos considerados próximos ao presidente.As demissões evidenciam a preocupação do PCC com a lealdade dentro das Forças Armadas, especialmente diante da ordem de Xi para que o Exército de Libertação Popular esteja preparado para um possível conflito por Taiwan até 2027.