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Seca afeta a saúde emocional e desafia sociedade a usar a água de forma sustentável, afirma especialista dos EUA

Exclusivo: diretora do Public Health Institute comenta crise da água e mudanças climáticas

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7


Para a especialista, efeitos da mudança climática serão decisivos para o futuro da saúde do homem
Para a especialista, efeitos da mudança climática serão decisivos para o futuro da saúde do homem

Neste momento o estado americano da Califórnia passa pela pior seca de sua história. E reflete uma situação que tem ocorrido também em várias partes do Brasil, inclusive São Paulo, e do mundo, relacionadas à escassez de água e ao aquecimento global.

Especialista em efeitos das mudanças climáticas na saúde das pessoas, a americana Linda Rudolph* vivencia de perto esta situação. Ela mora na Califórnia e trabalha diretamente para amenizar o impacto da seca na região. Referência na área, Linda é médica formada pela Universidade da Califórnia e diretora do Centro para Mudança Climática e Saúde do Instituto de Saúde Pública (Public Health Institute) dos EUA.

Em entrevista exclusiva ao R7, ela falou sobre prejuízos que a seca causa na saúde da população. E alertou sobre a importância de, diante do desafio, todos terem direito a água limpa e segura, para manter a qualidade de vida em um futuro com menos quantidade de recursos hídricos. Confira:

R7 — As secas na Califórnia e em partes do Brasil são explicadas pelos mesmos fatores?

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Linda Rudolph — Eu não saberia dizer com precisão. Mas as alterações climáticas deverão aumentar a frequência, intensidade e duração da seca em algumas regiões, como a Califórnia, e essas mudanças já estão sendo observadas. Às vezes, é difícil atribuir qualquer evento específico à mudança climática. O que nós sabemos é que a mudança climática é um pano de fundo dos desdobramentos das secas atuais e que, devido às alterações climáticas, as secas, hoje, são mais quentes do que as anteriores.

Linda Rudolph é médica formada pela Universidade da Califórnia e diretora do Centro para Mudança Climática e Saúde do Instituto de Saúde Pública (Public Helath Institute) dos EUA; Ela estará em São Paulo nos dias 1º e 2 de setembro durante o seminário Hospitais Saudáveis
Linda Rudolph é médica formada pela Universidade da Califórnia e diretora do Centro para Mudança Climática e Saúde do Instituto de Saúde Pública (Public Helath Institute) dos EUA; Ela estará em São Paulo nos dias 1º e 2 de setembro durante o seminário Hospitais Saudáveis

R7— Quais são as políticas que a srª considera mais eficazes para lidar com o problema da escassez de água em todo o mundo?

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LR — Um dos pontos mais importantes é reconhecer que a mudança climática vai reduzir a disponibilidade de água doce em muitas regiões e que hoje estamos usando água de maneiras não sustentáveis. E, logicamente, os seres humanos não podem sobreviver sem água. Precisamos trabalhar para garantir água limpa e segura para todos, mesmo diante da mudança climática e da crescente população mundial.

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R7 — A Califórnia está enfrentando uma seca histórica. Quais são as perspectivas para o futuro da gestão da água nesse estado?

LR — A Califórnia tem dado alguns passos importantes para melhor gerir a sua água para o futuro. Governador (Jerry) Brown (Partido Democrata) assinou uma lei que irá acelerar bastante e expandir os gastos em infraestrutura, financiar programas de reciclagem e de novos poços de água potável e instalações de tratamento de águas residuais em comunidades pequenas e pobres. O estado também impôs suas primeiras restrições obrigatórias para reduzir o consumo de água nas cidades em 25%. A nova legislação exige ainda que as agências de água desenvolvam planos de gestão de águas subterrâneas.

R7 — Como é possível viver com uma proporção de 25% do consumo de água nas cidades, mantendo a qualidade de vida e evitar problemas de ordem sanitária e de saúde?

LR — Uma boa parte da redução no uso de água pode ser alcançada por mudanças que realmente não têm efeito importante sobre a nossa qualidade de vida ou a nossa saúde. Por exemplo, aqui na Califórnia podemos reduzir significativamente o uso da água no paisagismo ao deixar de regar gramados, campos de golfe e jardins todos os dias, ou tomando banhos mais curtos, e simplesmente prestando mais atenção à conservação da água.

R7— E para diminuir e evitar prejuízos com secas mais extensas, o que pode ser feito?

LR — Sabemos que a coisa mais importante que devemos fazer é reduzir as emissões de gases de efeito estufa para evitar uma mudança climática catastrófica. Nós ainda temos tempo, tecnologia e o know-how para fazer a diferença. Muitas soluções climáticas também são soluções de saúde.

R7 — Por falar nisso, quais prejuízos uma seca traz para a saúde da população?

LR — A seca pode afetar a qualidade da água. Como bacias hidrográficas e reservatórios diminuem em quantidade, a concentração de substâncias contaminantes aumenta. A produtividade das culturas é reduzida. Os preços dos alimentos sobe, aumenta a insegurança alimentar, associada a problemas como diabetes e deficiências nutricionais. Podem aumentar a frequência de incêndios florestais, mortes, deslocamentos e a fumaça pode causar irritações das vias respiratórias, problemas pulmonares e doenças cardíacas.

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R7 — E do ponto de vista emocional da população, quais os prejuízos?

LR — A seca é um desastre lento cujos desdobramentos vão criando muita incerteza e estresse, afetando a saúde emocional e bem-estar. Existem alguns relatos de aumento de suicídios entre agricultores na Austrália durante secas severas, quando famílias perderam seus meios de subsistência.

R7 — De que outras maneiras a população urbana também sofre com a seca?

LR — Nas cidades os níveis de poeira também aumentam, causando irritações nos olhos, em vias respiratórias e transporte de fungos. Alterações de temperatura e precipitação também levam a mudanças na distribuição de mosquitos e carrapatos que carregam doenças transmitidas por vetores.

R7 — Como os médicos e profissionais da saúde podem contribuir para reduzir o impacto dos problemas de saúde causados pela seca?

LR - O setor da saúde tem várias funções importantes. Em primeiro lugar, é importante os profissionais da área ajudarem as comunidade e os formuladores de políticas a entenderem a gravidade dos impactos na saúde. Há um papel importante a desempenhar na educação, mostrando que a ação climática é uma ação de saúde.

R7 — A srª poderia citar alguns exemplos?

LR — Se trocarmos o carro pela bicicleta em viagens curtas, caminhar ou usar transporte público, podemos reduzir o efeito estufa, a poluição do ar e aumentar a atividade física - o que reduz a diabetes, doenças cardíacas, osteoporose e alguns tipos de câncer . O setor de saúde pode ajudar na redução da sua própria produção de carbono, reduzindo o desperdício, aumentando a eficiência energética e comprando materiais produzidos de forma sustentável.

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R7 — E em relação à agricultura?

LR — Se adotarmos práticas agrícolas mais sustentáveis, podemos diminuir a contaminação das águas subterrâneas por fertilizantes e reduzir a exposição a pesticidas tóxicos.

R7— Agora é o momento de conscientização. Mas como isso pode ser colocado em prática para evitar no futuro uma catástrofe ambiental?

LR — Precisamos prestar atenção na redução do nosso consumo de água na agricultura, na indústria e nas residências, se quisermos ter água em uma época de mudanças climáticas. Também é hora de fazer tudo o que pudermos para proteger as águas de superfície e as subterrâneas contra a poluição ambiental. A água é cada vez mais um bem precioso.

*Linda Rudolph estará no Brasil para debater temas relativos à mudança climática e impactos do setor da saúde no meio ambiente nos dias 1º e 2 de setembro à convite do Seminário Hospitais Saudáveis/2015.

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