Quase seis meses depois da passagem do Ciclone Idai, Moçambique se prepara para uma nova temporada de chuvas e ciclones. Em março, a tempestade tropical passou também pelo Zimbábue e pelo Malaui e deixou mais de 800 mortos nos três países. Só em Moçambique, pelo menos 2 milhões de pessoas foram afetadas de alguma forma. Energia elétrica e comunicação foram cortadas, casas foram alagadas e destelhadas, hospitais foram atingidos e precisaram lidar com a superlotação de feridos e doentes. Segundo Claudio de Sandra Julaia, especialista em emergências do Unicef em Moçambique, pelo menos 95 mil pessoas ainda estão desabrigadas desde a passagem do furacão e vivem em tendas e acampamentos criados pelo governo. Com a nova temporada de chuvas, eles podem ser atingidos novamente. Com os recursos escassos e limitados, o governo de Moçambique ainda depende da ajuda de instituições humanitárias internacionais para ajudar em algumas áreas. A proteção e as condições de habitação dessa população em risco podem ficar por conta da Cruz Vermelha e da Organização Internacional de Migração, que ainda estão ajudando na recuperação do país. Segundo a ONU, ainda existem dois milhões de pessoas no país precisando de assistência humanitária, e pediu ajuda de quase US$ 400 milhões, cerca de R$ 1,6 bilhão, para continuar os projetos em andamento no país. “Existe uma obrigação moral e é urgente que a comunidade internacional forneça apoio para salvar as vidas dos mais vulneráveis", disse Myrta Kaulard, coordenadora humanitária da ONU, segundo a agência EFE.A ajuda internacional Presente no país desde antes do ciclone, com projetos ligados à saúde e educação de crianças, a Unicef se prontificou a ajudar o governo logo após a passagem do furacão Idai. Com as inundações, a água foi contaminada e se tornou perigosa para consumo, além de comida ter se tornado escassa. “Nós ajudamos no reestabelecimento da água potável, com caminhões cisterna e expansão do sistema de abastecimento, na área do saneamento nós construímos latrinas coletivas nos lugares que as famílias foram mandadas temporariamente e latrinas individuais onde elas foram restabelecidas”, contou Claudio. Os fortes ventos acabaram destelhando casas, hospitais e escolas, e muitos lugares ainda não conseguiram se reconstruir. A organização também ajudou na reforma desses lugares, além de ajudar a controlar o surto de cólera que apareceu depois do Idai. “Precisamos de um lugar para conservação de vacinas e demos apoio massivo na vacinação contra cólera e sarampo”, explica. Com a ajuda internacional, a epidemia da doença teve fim em julho. A falta de alimento, que já era um problema existente no país antes do desastre, ampliou a desnutrição aguda. Com o agravamento da situação causado pelo Idai, o Unicef ajudou no fornecimento de alimentos e divulgação de planos nutricionais para gestantes e famílias. O governo também recebeu ajuda do Unicef na emissão de novos documentos para a população, que acabou perdendo os originais nos alagamentos. Além disso, as crianças receberam ajuda psicossocial, reunificação familiar e algumas escolas acabaram sendo transferidas para outros lugares. Claudio destacou que a ajuda humanitária internacional é fundamental para ajudar o governo nas áreas com déficit, além de advogar pelas áreas que precisam de orientação e fundos e garantir que a assistência oferecida seja de qualidade e não prejudique ninguém. Moçambique recebeu ajuda de diversos países nos mais variados setores. O Brasil enviou uma equipe de bombeiros que ajudou nos resgates e buscas em Brumadinho, depois do rompimento de uma barragem da Vale. Claudio também destaca a ajuda do Reino Unido, Estados Unidos, África do Sul, Angola, Espanha, Itália, Japão e Índia, que ficaram no país entre abril e junho. “Eles ajudaram na assistência alimentar, abrigo, assistência médica, apoio aéreo [para ir em regiões de difícil acesso]” conta.Reconstrução lenta Seis meses depois, Moçambique se reconstrói paulatinamente. Claudio diz que muitas áreas afetadas ainda não receberam ajuda, mas em Beira, segunda maior cidade do país e uma das mais afetadas “nem parece que passou um ciclone”. “A situação agora está mais calma. A energia elétrica e comunicação foram restabelecidas, muitas pessoas foram realocadas para outros lugares”, diz. Apesar da situação mais controlada, muitas crianças ainda não estão frequentando a escola, já que muitas unidades ainda vão precisar de reformas e muito material didático foi perdido. Além disso, os hospitais ainda precisam de recursos. “O governo tem um projeto de 5 anos para a reconstrução do país”, explica, e doadores já garantiram mais de 3 bilhões de dólares (cerca de R$ 12,25 bilhões) para os projetos. O dinheiro, porém, ainda não está disponível.