Sucesso do Ozempic nos EUA levou a Dinamarca a reduzir taxa de juros; entenda situação incomum
Valor de mercado da Novo Nordisk, fabricante do medicamento, chega a US$ 419 bi e supera o PIB dinamarquês
Internacional|Do R7
Fabricado pela empresa farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, o Ozempic se tornou um sucesso inesperado: criado para auxiliar no tratamento de diabetes, a medicação tem o efeito secundário de promover o emagrecimento rapidamente. Mas a alta demanda pelo produto, especialmente nos EUA, criou outro efeito colateral: o Ozempic desestabilizou a economia da Dinamarca.
A Novo Nordisk hoje é a maior empresa do país escandinavo e cresceu mais de um terço até agora neste ano, chegando a cerca de US$ 419 bilhões (aproximadamente R$ 2,1 trilhões), superando ligeiramente o PIB dinamarquês, de US$ 406 bilhões (cerca de R$ 2 trilhões).
As métricas não são equivalentes: a capitalização de mercado refere-se ao valor total das ações da Novo Nordisk, enquanto o PIB mede bens e serviços produzidos em um ano. No entanto, a comparação mostra o peso da Novo Nordisk na economia da nação nórdica.
A importância da empresa foi capaz de influenciar nas taxas de câmbio do país. A moeda da Dinamarca, a coroa, é atrelada ao euro. O banco central de Copenhague ajustou as taxas de juros e fez outras intervenções para manter seu valor estável em relação ao euro, a moeda comum do continente.
As vendas nos EUA do Ozempic e do Wegovy, outro remédio que auxilia no emagrecimento, têm sido tão robustas que a empresa precisou converter os dólares obtidos no exterior em coroas em uma quantidade impressionante. O resultado foi a valorização da coroa frente ao euro, disse Jens Naervig Pedersen, diretor do Danske Bank, em entrevista ao The Wall Street Journal.
"As exportações da indústria farmacêutica cresceram tanto que isso está criando uma grande entrada de capital na economia dinamarquesa", disse Pedersen.
Para conter esse efeito, a autoridade monetária da Dinamarca se viu obrigada a reagir e cortou as taxas de juros, que hoje estão abaixo das do Banco Central Europeu. O banco central da Dinamarca não quis comentar.
Bênção ou risco?
No geral, o sucesso do Ozempic é uma bênção para a economia dinamarquesa, que se beneficiará da criação de mais empregos, com o crescimento da empresa e de investimentos domésticos, disseram economistas.
Taxas de juro mais baixas também beneficiam compradores de imóveis, que conseguem taxas de financiamento um pouco menores do que no restante da Europa, acrescentaram.
Por outro lado, o peso desproporcional da Novo Nordisk na economia da Dinamarca pode ser um risco, ainda mais no caso de a empresa enfrentar problemas financeiros, qualquer que seja o motivo, em um futuro próximo.
Foi o que aconteceu na vizinha Finlândia, que cresceu muito durante o auge da fabricante de celulares e aparelhos de telecomunicação Nokia, mas teve que lidar com os problemas da derrocada da empresa a partir da segunda metade dos anos 2000.
Segundo analistas, porém, não há motivos para se preocupar — pelo menos por enquanto. Segundo a AFP, as vendas do tratamento de obesidade Wegovy, da Novo Nordisk, quadruplicaram no segundo trimestre deste ano. E a demanda seguirá alta.
Se a prevenção e os cuidados médicos não melhorarem, a Federação Mundial de Obesidade prevê que, até 2025, metade da população mundial estará com sobrepeso. Segundo cálculos da entidade, isso acarretará um custo econômico muito alto, de até US$ 4 trilhões por ano (cerca de R$ 20 trilhões), cifra próxima ao PIB da Alemanha.
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Hoje, o acesso a esses medicamentos é caro: uma injeção subcutânea do Ozempic ou Wegovy uma vez por semana custa mais de US$ 10 mil por ano (R$ 49,1 mil na cotação atual).
Para reduzir o preço desses remédios e, ao mesmo tempo, aumentar o número de compradores, é preciso transformá-los em comprimidos. Os investidores calculam que essas pílulas contra a obesidade podem gerar um mercado mundial de até US$ 54 bilhões de dólares (R$ 265,1 bilhões) até 2030. E fazer o valor da Novo Nordisk aumentar ainda mais.