O capitão do navio chinês detido pela Guarda Costeira de Taiwan em fevereiro foi acusado por promotores da ilha nesta sexta-feira (11) de danificar intencionalmente cabos submarinos taiwaneses, segundo a agência de notícias Reuters.A embarcação, registrada no Togo sob o nome “Hong Tai”, foi interceptada em 25 de fevereiro após o cabo ser desconectado nas primeiras horas daquele dia, levantando temores de uma possível operação chinesa de “zona cinzenta” – um ato de interferência hostil que não chega a configurar guerra aberta.O gabinete do promotor na cidade de Tainan, no sul de Taiwan, disse à Reuters que acusou o capitão chinês do navio, identificado apenas pelo sobrenome Wang, de ser o responsável por danificar o cabo.Wang disse que é inocente, mas se recusou a fornecer detalhes sobre o proprietário do navio, disseram os promotores. Todos os outros sete tripulantes chineses que também foram detidos em fevereiro não serão acusados. Eles retornarão para a China.Em fevereiro, a Guarda Costeira taiwanesa, disse que o navio, que operava com uma “bandeira de conveniência” (registrada em um país diferente de sua origem), estava ancorado perto do cabo submarino três dias antes da apreensão, na costa sudoeste de Taiwan.Apesar de repetidas tentativas de contato por rádio e alto-falantes, a tripulação não respondeu às autoridades. Após uma denúncia da maior operadora de telecomunicações integrada de Taiwan sobre a interrupção do cabo submarino, embarcações da Guarda Costeira abordaram o “Hong Tai” e o escoltaram ao porto de Anping, em Tainan, para investigação.“Se foi um ato intencional de sabotagem ou um simples acidente, isso exige uma análise mais aprofundada”, disse a Guarda Costeira em um comunicado divulgado logo depois da apreensão.As autoridades não descartaram a hipótese de que o incidente seja parte de uma estratégia chinesa de “zona cinzenta”, termo usado para descrever ações coercitivas que pressionam Taiwan sem escalar para um conflito direto.A disputa entre China e Taiwan remonta à guerra civil chinesa, que culminou na ascensão do Partido Comunista ao poder, em 1949. O governo derrotado do Kuomintang (KMT) fugiu para Taiwan e estabeleceu um governo próprio na ilha.Desde então, Pequim considera Taiwan uma província rebelde, que deve ser reunificada ao continente. A ilha, por sua vez, vê-se como um Estado independente, com governo próprio e eleições democráticas.As manobras militares também ocorrem em um momento de crescente pressão chinesa sobre Taiwan, especialmente após a aproximação da ilha com os Estados Unidos. Desde a posse de Lai Ching-te, em maio, a China tem intensificado as críticas ao novo governo e realizado simulações de invasão.O dano ao cabo submarino não é um caso isolado. Nos últimos anos, Taiwan registrou interrupções suspeitas em sua infraestrutura de telecomunicações. Em janeiro deste ano, um navio ligado à China foi investigado por cortar um cabo na costa norte da ilha. Em 2023, dois incidentes atribuídos a embarcações chinesas deixaram as ilhas Matsu sem internet por semanas, embora as autoridades não tenham confirmado intenção deliberada.Esses episódios alimentam a preocupação em Taipé sobre a vulnerabilidade dos cabos submarinos da ilha, essenciais para manter a comunicação com o mundo exterior. Cerca de 95% do tráfego global de internet passa por essas estruturas, que movimentam aproximadamente US$ 10 trilhões (cerca de R$ 58,9 trilhões) em comércio diário, segundo a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp