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Tensão na relação entre Alemanha e Turquia ainda afeta imigrantes

Queixa alemã contra Ozil é baseada no fato dele ter ter sido fotografado com Erdogan, que, para o governo alemão, é um ditador 

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Alemães foram presos pelo governo turco
Alemães foram presos pelo governo turco Alemães foram presos pelo governo turco

O episódio que envolveu a saída de Mesut Ozil da seleção alemã de futebol mistura um passado de imigração consentida com um presente marcado por divergências políticas entre Alemanha e Turquia.

A queixa alemã contra Ozil é baseada no fato dele ter permitido ser fotografado com o presidente Recep Tayyip Erdogan, que na visão do governo alemão é um ditador que desrespeita os direitos humanos.

O governo alemão entrou em discordância com o governo de Erdogan, considerando tal regime autoritário, a partir de 2016.

Segundo a Alemanha, muitos cidadãos alemães foram presos após Erdogan evitar o que chamou de tentativa de golpe, naquele ano.

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Erdogan, por sua vez, acusa muitos alemães de apoiarem opositores. Esse conflito diplomático causou a redução de investimentos de empresas alemãs na Turquia. As exportações de armas da Alemanha para os turcos também foi congelada.

Esta tensão entre ambos os governos, aliada a questões econômicas e a um conservadorismo xenófobo de parte da população alemã, ainda repercute na integração dos imigrantes e seus descendentes no país.

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Histórico da imigração

O vínculo entre turcos e alemães tem uma longa história. O ápice da chegada de turcos à Alemanha ocorreu quando uma grande quantidade de pessoas foi trabalhar no país nos anos 60, dentro de uma imigração consentida. Hoje eles formam a maior comunidade de origem estrangeira em território alemão, com cerca de 3,4 milhões de pessoas entre cerca de 7,2 milhões de imigrantes.

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Isso ocorreu em função de a Alemanha, destruída após a Segunda Guerra (1939-1945), necessitar de uma reestruturação urgente. Iniciativas que buscavam mão-de-obra barata passaram, então, a ser implementadas, como uma espécie de continuidade do Plano Marshall (plano de reconstrução europeia financiado basicamente pelos Estados Unidos.)

A derrocada alemã foi tão grande na época, que, nos anos 50, o país foi o único que não retomou os índices econômicos de antes da guerra, mesmo com mais de 1 bilhão de dólares investidos pelos EUA na recuperação alemã.

Foi quando, em 1960, a Alemanha assinou um acordo de recrutamento de trabalhadores turcos. Foi aí que uma grande legião de pessoas imigrou para território alemão (não só turcos, mas também portugueses, franceses e iugoslavos, entre outros). O objetivo deles era encontrar empregos. O da Alemanha era de revitalizar sua indústria.

Acontece que o projeto tinha como denominação o termo Gastarbeiter (convidados) e buscava utilizar tal mão-de-obra apenas por um período. O plano era de que os trabalhadores, após terminarem seus serviços, em alguns anos, voltassem para a Turquia.

Mas isso não ocorreu. A maioria permaneceu em território alemão. Os turcos na Alemanha buscavam a segurança material no país que ajudaram a reerguer. No entanto, acabaram sendo tratados com uma dose de xenofobia e ingratidão.

A situação ficou ainda pior, possivelmente, após a reunificação alemã, em 1989, quando muitos moradores do lado ocidental reclamaram da sobrecarga econômica que o lado oriental iria trazer.

Histórico das relações

As relações entre ambos os países são uma projeção de tempos antigos, influenciadas pela derrocada do Império Bizantino (1453). Desde então, novos impérios tomaram a região onde hoje está o território turco. O último deles, o Império Otomano (1299-1923).

Quando o Império otomano começou a se enfraquecer, no início do século 20, a Alemanha buscou dar suporte à região, que começava a ser influenciada por interesses russos e eslavos.

Pode-se dizer que, de uma maneira até contraditória em relação aos tempos atuais, a Alemanha acolheu as demandas dos muçulmanos, que eram os otomanos, para tentar bloquear a ascensão eslava na região.

Tais movimentações foram o prenúncio da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Somadas, é claro, à complexidade de outras alianças e interesses, que envolviam também, entre outros, as potências ocidentais França, Inglaterra e Estados Unidos.

A partir de 1923, o fim do Império Otomano, como consequência daquela guerra, deu origem à atual Turquia. E, por se situar na histórica região da Anatólia, na antiga Ásia Menor, continuou a ser um ponto de interesse para potências europeias, principalmente em função de sua localização estratégica, servindo como uma ponte entre Europa e Ásia.

Ao longo do tempo, o governo alemão foi flexibilizando a política de obtenção da nacionalidade, inclusive com fornecimento de cursos de idiomas.

Por volta dos anos 2000, os filhos de estrangeiros que nasceram na Alemanha passaram a receber a nacionalidade alemã, além da nacionalidade dos pais. Isso, no entanto, não foi suficiente para garantir a integração turca no país. 

Com isso, muitos turcos nascidos na Alemanha têm uma identificação muito grande com a Turquia. Por um lado, o governo da atual primeira-ministra, Angela Merkel, quer impulsionar isso rumo a uma sociedade multicultural. Mas, por outro lado, o governo local está preocupado por causa da influência externa de regimes polêmicos, como o de Erdogan.

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