O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a pressionar o Pentágono por um novo e ambicioso sistema de defesa antimísseis, que ele tem chamado de “domo dourado”. A proposta, que lembra o bem-sucedido “domo de ferro” israelense, almeja erguer um escudo protetor sobre os Estados Unidos para interceptar mísseis inimigos. Mas, segundo especialistas, o projeto é muito mais complexo e caro do que o sistema de Israel. Segundo uma ordem executiva já assinada por Trump e reportagens recentes da Reuters, uma parte crítica do domo americano compreende a instalação de interceptadores espaciais, que são satélites capazes de detectar e destruir mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) em pleno voo. O sistema dependeria de milhares de satélites em órbita, algo que só recentemente se tornou tecnicamente plausível.Ainda assim, analistas alertam que o “domo dourado” não é comparável ao “domo de ferro”, que foi desenhado para interceptar foguetes de curto alcance e baixa velocidade, como os usados em ataques vindos de Gaza e do Líbano. A proposta de Trump busca proteger o país de ameaças muito mais sofisticadas. Mísseis hipersônicos, como os que a Rússia tem usado na guerra da Ucrânia, e os ICBMs da China e da Coreia do Norte voam em velocidades extremas, saem da atmosfera e reentram em altitudes elevadas, tornando-se alvos praticamente impossíveis para sistemas convencionais de defesa.Interceptar esses projéteis exigiria que os mísseis fossem abatidos logo no lançamento, uma janela de apenas três a cinco minutos. Para isso, seria necessário manter satélites armados posicionados constantemente sobre áreas de risco como Pyongyang, Moscou ou Pequim. Um estudo da Sociedade Americana de Física apontou que uma constelação eficaz contra apenas dez ICBMs exigiria cerca de 16 mil satélites, mais do que o dobro da atual rede Starlink, da SpaceX.Segundo a Reuters, a SpaceX chegou a avaliar uma parceria com empresas de defesa como Palantir e Anduril para participar do projeto de Trump. A proposta previa centenas de satélites de ataque e detecção. Elon Musk, no entanto, negou a iniciativa. “Nossa preferência é focar em levar a humanidade a Marte. Se o presidente nos pedir ajuda, o faremos, mas esperamos que outras empresas assumam esse papel”, escreveu em sua conta no X.Outras companhias do setor, como a Booz Allen Hamilton, propõem versões alternativas mais “modestas”, com constelações de 2.000 satélites e custo estimado em US$ 25 bilhões (cerca de R$ 142 bilhões), fora o custo anual de manutenção, que pode chegar a US$ 5 bilhões (R$ 28 bilhões). Além do custo elevado, o “domo dourado” pode gerar um custo estratégico ainda maior para os EUA: a reativação da corrida armamentista nuclear. Washington, por sua vez, já acredita que Moscou está testando armas espaciais capazes de destruir constelações de satélites, como as que sustentariam o projeto. Pequim também tem investido em tecnologias para guerra orbital. A construção de um escudo antimísseis total sobre os EUA pode romper o equilíbrio da dissuasão nuclear e inaugurar uma nova fase na militarização do espaço.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp