Internacional Tunísia: ministro da Defesa é demitido após dia de confrontos

Tunísia: ministro da Defesa é demitido após dia de confrontos

Presidente tunisiano determinou a suspensão de 30 dias das atividades parlamentares do país 

AFP
Presidente da Tunísia suspendeu atividades do Parlamento na noite de domingo (25)

Presidente da Tunísia suspendeu atividades do Parlamento na noite de domingo (25)

FETHI BELAID / AFP

O presidente tunisiano, Kais Saied, demitiu o ministro da Defesa nesta segunda-feira (26), após um dia de confrontos por sua decisão na véspera de suspender a atividade parlamentar e destituir o primeiro-ministro, mergulhando o país em uma crise política.

Depois de um domingo de manifestações em várias cidades contra a gestão da pandemia de coronavírus do governo de Hichem Mechichi, o presidente Saied destituiu o primeiro-ministro e anunciou a suspensão da atividade do Parlamento por 30 dias.

Também anunciou que assumirá o poder executivo "com a ajuda do governo", atribuindo a si mesmo o poder de nomear ministros.

Nesta segunda-feira, a Presidência da República anunciou em nota a demissão de Ibrahim Bartaji, ministro da Defesa, e de Hasna Ben Slimane, que era porta-voz do governo, ministro da Administração Pública e ministro interino da Justiça.

O partido governante, Ennahadha - de orientação islamita -, criticou duramente a medida de Saied, que denunciou como "um golpe de Estado contra a revolução e contra a Constituição".

Em contraste, a União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), uma central sindical influente, apoiou implicitamente as decisões.

A União indicou que elas estavam "em conformidade" com a Constituição, embora tenha pedido a continuação do processo democrático, mais de uma década depois do levante que terminou com a ditadura de Zine el Abidine Ben Ali.

“Está na hora” de os responsáveis pela “degradação” situação do país “assumirem as suas responsabilidades”, afirmou o sindicato.

Preocupação internacional

No exterior, a Turquia, aliada de Ennahdha, pediu a restauração da "legitimidade democrática" e a Alemanha exigiu a "retomada da ordem constitucional o mais rápido possível".

Berlim também pediu o "respeito às liberdades civis, que é uma das conquistas mais importantes da revolução tunisiana" de 2011, que costuma se apresentada como a única bem-sucedida da Primavera Árabe.

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O temor desse retrocesso foi agravado após o fechamento, na segunda-feira, pela polícia dos escritórios da rede catariana Al Jazeera na capital, sem ordem judicial ou explicação que não seja a aplicação de "instruções".

Centenas de apoiadores de Saied e de Ennahdha se atacaram mutuamente nesta segunda-feira com pedras e garrafas em frente ao Parlamento, na cidade de Tunes, observaram repórteres da AFP.

Rached Ghannouchi, chefe do Ennahdha e presidente do Parlamento, que ficou 12 horas estacionado em um carro em frente à ele, não conseguiu entrar no edifício porque os militares enviados para vigiar a câmara o impediram.

Essas medidas buscam "mudar a natureza do regime político na Tunísia e transformá-lo de um regime democrático para um regime presidencial, individual e autoritário", considerou Ghannouchi em uma declaração publicada na página oficial de Ennahdha.

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Saied declarou que a Constituição não permite dissolver o Parlamento, mas que permite suspender sua atividade, segundo o artigo 80, no caso de "perigo iminente".

Esse artigo é aplicado por 30 dias, ao longo dos quais a Corte Constitucional deve decidir se prolonga ou não sua vigência. No entanto, essa instituição ainda não pôde ser lançada devido à agitada vida política da Tunísia desde a aprovação da Constituição em 2014.

Conflito político

Rached Ghannouchi e o presidente Saied estão imersos em um conflito político há seis meses, que paralisou o governo e prejudicou os poderes públicos, em meio à onda de casos de covid-19 que abala a Tunísia desde o início de julho.

Com quase 18.000 mortos por coronavírus, o país de 12 milhões de habitantes apresenta uma das piores taxas de mortalidade do mundo.

Depois do discurso de Saied, milhares de tunisianos, indignados com as lutas de poder e a questionada gestão da crise social e sanitária por parte do governo, foram às ruas apesar do toque de recolher, lançando fogos de artifício e buzinando na capital Tunes e em outras cidades.

Além do Ennahdha, os partidos de sua coalizão, Qalb Tounes e o movimento islamita nacionalista Karama, também condenaram as decisões de Saied.

Na oposição, a Corrente Democrática, um partido socialdemocrata que apoiou Saied em várias ocasiões, também rejeitou a medida, embora tenha culpado a "tensão popular e a crise social, econômica e sanitária e a falta de horizontes da coalizão no poder dirigida por Ennahdha".

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