O vulcão Cumbre Vieja fica na ilha de La Palma, nas Ilhas Canárias, norte da África
Miguel Calero/EFE - arquivoA história que uma provável erupção nas Ilhas Canárias nos próximos dias poderia acabar causando um tsunami no litoral do Brasil virou notícia nesta quinta-feira (16). O vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La Palma, na costa norte da África, teria este poder?
Especialistas explicaram ao R7 que eventuais ondas gigantes são extremamente improváveis. A última vez que o vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção foi na década de 1970 e pode permanecer mais algumas centenas de anos sem grandes atividades sísmicas.
O professor da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) Lucas Rossetti, especialista em rochas vulcânicas, explicou que um tsunami causado por uma erupção a partir de uma ilha vulcânica é um evento que ocorre uma vez a cada 20 mil anos.
“A probabilidade disso [o tsunami] ocorrer é muito pequena. Esses eventos geológicos ocorrem em escalas de dezenas de milhares de anos. A cada 10 mil, 20 mil anos, nós teremos esse tipo de evento acontecendo.”
Outro ponto que favorece o Brasil a fugir de tais desastres é que a atividade vulcânica nas ilhas do Atlântico — oceano que banha o país — é baixíssima. O professor do departamento de Geofísica da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Aderson Nascimento explicou que o último evento deste tipo nestas águas aconteceu no século 18, em Portugal.
“O Atlântico não é um local que tenhamos registros de tsunami. Talvez o registro mais claro que tenhamos seja no terremoto de Lisboa, em 1755. O foco não foi em Lisboa, mas sim no Atlântico. [...] Foi um evento extremamente forte.”
Ainda de acordo com Nascimento, há registros de elevação do mar brasileiro na época da colonização portuguesa, mas que não apontam grandes destruições. Segundo o professor da UFRN, é mais fácil ser atropelado por um carro na rua do que um tsunami chegar ao país após erupção nas Ilhas Canárias.
Gráfico da atividade sísmica
Instituto Geográfico Nacional da Espanha - 15.9.2021Atividade vulcânica em La Palma
Rossetti explica que registros de atividades sísmicas foram se intensificando em La Palma nos últimos dias. Entretanto, nesta quinta, deslocamento de lava sob a Terra diminuiu. O professor destaca que a partir de agora a ilha pode ficar centenas de anos sem qualquer outro evento deste tipo.
“De ontem para hoje a atividade sísmica diminuiu muito. Então, se nos próximos dias essa atividade for diminuindo gradativamente ou a gente tiver o fim da atividade sísmica, significa que o magma se movimentou para uma zona mais rasa e parou. Ele pode ficar centenas de anos resfriando antes de uma erupção.”
Ainda que o Cumbre Vieja entre em erupção, seu tipo de magma apresenta uma viscosidade baixa, “que flui como água”, explicou Rossetti. A tendência de expelir a lava e não causar explosões também diminui a chance de promover uma catástrofe.
Entretanto, se todas as possiblidades forem desafiadas e um tsunami realmente acontecer a partir da atividade vulcânica em La Palma, Nascimento garante que teríamos horas para nos preparar para a chegada das ondas gigantes.
“Se houver um tsunami catastrófico, o qual a probabilidade é baixíssima, a gente teria algumas horas para, digamos assim, evacuar as áreas atingidas. E ainda assim não existe no Brasil, e em muitos lugares do mundo, como saber de que forma essas ondas iriam interagir com o litoral do país.”