Além do risco de manifestações e atos de black blocs, a polícia mineira trabalha para contornar uma situação que a tabela da Copa do Mundo reservou para Belo Horizonte: o encontro entre Hooligans ingleses e Barras Bravas argentinas, as duas torcidas mais violentas do mundo. Os jogos mais esperados da primeira fase no Mineirão, Argentina x Irã e Inglaterra x Costa Rica, acontecem em um intervalo de três dias, 21 e 24 de junho. As duas seleções podem ainda se enfrentar na semifinal em Belo Horizonte. Para isso, precisam ficar em 2º lugar nos respectivos grupos e ultrapassar as quartas de final.Leia mais notícias no R7 Minas O major Gilmar Luciano, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar, explica que 35 mil turistas desses países são esperados em BH, 10% podem ter ligação com torcidas violentas. — São turistas e serão muito bem recebidos em Belo Horizonte. Mas estamos com um contato próximo às embaixadas de Argentina e Inglaterra e temos o mapeamento de onde possíveis torcedores violentos vão ficar. Em geral, os argentinos ficarão no centro e os ingleses preferem a região da Pampulha. São esperados 20 mil ingleses - 2.000 hooligans - e 15 mil argentinos, com pelo menos 1.500 integrantes de Barras. A estratégia a ser adotada pelos 3.000 militares do Batalhão Copa, criado especialmente para o evento, envolve uma escolta parecida com a que é feita em dias de clássico entre Cruzeiro e Atlético. — A estrutura é parecida, vamos reunir as torcidas e escoltá-las pela [avenida] Antônio Carlos e [avenida] Catalão para evitar confrontos. O cadastro de integrantes de Barras Brava com passagem criminal, solicitado pelo governo brasileiro à Argentina, ficará com a Polícia Federal. Em caso de cumprimento de mandado de prisão, o caso específico será enviado para a PM, segundo o major.Invasão argentina O sociólogo argentino Diego Murzi, 33 anos, da ONG Salvemos al Fútbol, que reúne parentes de vítimas da violência no futebol, crê que o fato de a Copa acontecer no país vizinho vai provocar uma invasão de fãs, ainda que muitos não tenham ingressos. — A Copa é um dos acontecimentos mais importantes para os argentinos e a fronteira com o Brasil permite a viagem de muitos torcedores, mesmo os que não conseguiram ingressos. Por isso, teremos mais torcedores comuns, que viajam em pequenos grupos, e barras, do que em outros mundiais. Ele afirma que há bravas interessadas em viajar para brigar com ingleses por conta da rivalidade política. — A presença de barras é garantida desde a Copa de 82. A rivalidade entre torcedores argentinos e ingleses tem que receber vigilância especial das autoridades, já que houve inclusive declarações de barras que disseram que vão ao Brasil enfrentar ingleses. Creio que o pedido do governo brasileiro da listagem de pessoas com antecedentes criminais pode servir para prevenir a entrada de torcedores violentos. O delegado da Interpol Luiz Eduardo Navajas explicou à agência AFP que os torcedores listados serão barrados. "Caso consigam entrar, burlando os controles, eles serão serão deportados". Na última semana, a Hinchadas Unidas Argentinas, associação que reúne barras bravas foi dissolvida por discordâncias sobre a distribuição de ingressos. Com isto, em vez das 650 torcidas previstas originalmente para entrar no Brasil, deverão ser 150.Rivalidade A rivalidade entre as duas seleções começou com a Guerra das Malvinas, em 1982, quando os ingleses invadiram a ilha argentina. Quatro anos mais tarde, a Argentina foi campeã depois de eliminar a Inglaterra com dois gols históricos de Maradona (um com a "Mão de Deus" e outro depois de driblar seis adversários). As seleções ainda se encontraram em 1998 e 2002, com uma vitória para cada lado. Os hooligans se notabilizaram pela organização de gangues para entrar em confronto com torcidas rivais na Inglaterra a partir dos anos 1970. O país só conseguiu contornar o problema nos anos 1990, com o banimento de torcedores e a aplicação de leis criminais severas. Ainda assim, grupos aproveitam principalmente jogos fora da Grã-Bretanha para se enfrentar. Já as Barras Bravas, como são conhecidas as torcidas organizadas na Argentina, foram responsáveis pela morte de 31 pessoas desde 2011, segundo a ONG Salvemos al Futbol. Além da paixão doentia e do apoio incondicional aos clubes do início ao fim das partidas, as barras são envolvidas em suspeitas de corrupção para conseguir ingressos, eleger diretorias e até influenciar em eleições municipais.