Ativistas dos direitos de moradores de rua conseguiram na Justiça a confirmação da decisão que proíbe o Estado de Minas Gerais e a Prefeitura de Belo Horizonte de recolher pertences da população que vive nas ruas. O julgamento de mérito da ação ocorreu na quinta-feira (11) na 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. A ação popular foi ajuizada por advogados do Coletivo Margarida Alves em 2012. Em primeira instância, o TJ havia concedido liminar favorável ao Estado, mas a decisão foi derrubada em dezembro.BH registra a morte de 59 moradores de rua em 2012 Com a decisão unânime dos desembargadores Tereza Cristina Peixoto, a relatora, Bittencourt Marcondes e Alyrio Ramos, os moradores de rua não podem ter materiais, como colchões, barracas, panelas e documentos apreendidos por fiscais ou pela Polícia Militar. Um dos advogados que representou os moradores de rua, Joviano Mayer, considera a decisão histórica. — Foi incrível. Saímos muito emocionados, é histórico. Um dos desembargadores caracterizou, inclusive, a ação do Estado como fascista, absurda, ao recolher os materiais. Apesar da proibição, segundo Joviano, o Estado mantém as apreensões. — Nos autos temos cerca de 10 boletins de ocorrência que comprovam as abordagens ilegais. A sessão foi acompanhada por cerca de 30 pessoas, entre ativistas e estudantes. Doze moradores de rua também estavam presentes no Tribunal. Por meio das assessorias de imprensa, a Prefeitura de BH e o Governo de Minas afirmaram que só vão se pronunciar após a publicação do acórdão. Em nota, o coletivo comemorou a decisão. — Com essa decisão histórica, exigimos que a Prefeitura de Belo Horizonte e o Estado de Minas Gerais cessem as violações de Direitos Humanos da população em situação de rua, sob pena de execução da multa prevista no acórdão proferido hoje e responsabilização dos agentes públicos envolvidos. Os advogados lembram que, nos últimos dois anos, cerca de 100 moradores de rua foram assassinados em Belo Horizonte. As apreensões teriam se intensificado com a aproximação da Copa do Mundo, em uma espécie de "higienização" da cidade. — É evidente que a violência perpetrada pelo Poder Público contra essas pessoas, já tão marginalizadas, se reflete na violência que parte da própria sociedade civil. Quando o Poder Público, que deveria proteger e garantir políticas públicas para as pessoas que vivem nas ruas, trata essas pessoas como lixo humano, subtraindo arbitrariamente seus poucos bens, legitima de certo modo a violência praticada pelo conjunto da sociedade.