Quase 30 anos depois de criar a lei que obriga o SUS (Sistema Único de Saúde) a fornecer cirurgias de reconstrução mamária para mulheres que enfrentam o câncer de mama, a jornalista e empresária mineira Maria Elvira Salles Ferreira vê o projeto como um “legado”.Aos 75 anos e no Outubro Rosa, mês de conscientização sobre a doença, Maria Elvira celebra o avanço alcançado no país graças à política pública pensada por ela após um infortúnio familiar.“Em 1969, minha irmã morreu aos 29 anos vítima de um câncer de mama. Naquela época, não tinha o tratamento que temos hoje. A mulher tirava a mama e não tinha nada para colocar no lugar. Às vezes, as mulheres colocavam um saquinho com alpiste para suprir a falta do seio”, relembra.Eleita deputada em uma época em que a Câmara dos Deputados ainda não tinha banheiro feminino, Elvira dedicou boa parte dos esforços a projetos em prol das mulheres.“Na época, conversei com José Serra, então ministro da Saúde, e ele me incentivou a tentar o projeto para garantir o tratamento, que era caro. Não foi uma negociação fácil, porque eu estava propondo um projeto que criava despesas para o Executivo, mas no dia 8 de março, no Dia Internacional da Mulher, consegui a aprovação”, celebra.A proposição de Maria Elvira foi aprovada em 1997 e entrou em vigor em 1999. Especialistas avaliam a iniciativa como um marco na área. Com o passar do tempo, a legislação foi adaptada, e as operadoras de planos de saúde foram obrigadas a também oferecer a reconstrução de mama gratuitamente para as clientes em tratamento contra o câncer.“Isso para as mulheres representa qualidade de vida, resgate da autoestima e redução da ansiedade”, comenta a médica mastologista Andréa Donato.“No passado, quando não existiam esses tratamentos, a mulher ficava mutilada. Depois disso, surgiram as cirurgias de reconstrução, mas o acesso era difícil e caro. Agora, toda mulher em tratamento pode fazer a reconstrução no momento da cirurgia de retirada do nódulo”, comenta a especialista.A médica explica que, para ter acesso ao procedimento, basta a paciente pedir ao médico que a acompanha no tratamento oncológico, seja na rede pública ou privada. O processo pode ser feito até mesmo por mulheres que perderam parte ou todo o seio no tratamento, mas não fizeram a reconstrução no momento.A política pública, na avaliação da mastologista, é uma ferramenta importante para o tratamento da doença, que, segundo ela, tem crescido.Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente em mulheres, após o câncer de pele. Estimativas do Ministério da Saúde apontam que o Brasil deve fechar 2024 com 73,6 mil novos casos da doença, alcançando uma média de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres.“Fico feliz porque foi uma mudança marcante na saúde pública da mulher. Não só em Minas Gerais, mas em todo o país. Fico emocionada porque temos um legado a deixar na vida, e eu sempre levei esse tema muito a sério”, celebra Maria Elvira.Para marcar as mobilizações de conscientização sobre o câncer de mama, o hospital Madre Teresa, localizado na região Oeste de BH, vai homenagear a ex-deputada mineira pelas contribuições em prol da causa.Maria Elvira foi deputada estadual pelo PMDB por duas vezes, entre 1987 e 1995, e deputada federal também por dois mandatos, de 1996 a 2003. Ela é filha do educador Newton Paiva Ferreira e fundadora do Centro Universitário Newton Paiva. Além da atuação política, chefiando secretarias e conselhos, a mineira marcou história liderando importantes instituições e associações empreendedoras.Mastologista dá dicas para identificar nódulos de câncer de mama: