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Pavimentação da BR-319 pode elevar desmatamento na Amazônia

Um estudo feito por pesquisadores da UFMG relaciona a medida, anunciada pelo governo federal, a ampliação do impacto ambiental até 2050

Minas Gerais|Lucas Pavanelli, do R7

Pavimentação foi abandonada em 1988
Pavimentação foi abandonada em 1988

Um estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) aponta que a obra de pavimentação da BR-319, na Amazônia, anunciada recentemente pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, pode contribuir para aumentar em até quatro vezes o desmatamento na região nos próximos 30 anos.

A universidade divulgou, nesta quarta-feira (18), uma nota técnica sobre o assunto em que afirma que a rodovia de 877 km de extensão, que liga as capitais Manaus e Porto Velho, atravessa ou margeia diversas unidades de conservação. Entre elas, a Reserva Extrativista do Lago do Capanã Grande, o Parque Estadual do Matupiri e o Parque Nacional Nascentes do Lago Jari, de mais de 800 mil hectares.

Todas essas unidades de presevação foram criadas nos anos 2000, mais de 10 anos depois que a pavimentação da BR-319 foi abandonada pelo governo federal. O projeto de ligar, por terra, Manaus a Porto Velho, começou nos anos 70, mas foi abandonada em 1988, "por se tornar intransitável".

Simulação feita pela UFMG mostra impacto da pavimentação da rodovia BR-319
Simulação feita pela UFMG mostra impacto da pavimentação da rodovia BR-319

De acordo com os pesquisadores da UFMG, que assinam a nota técnica, Britaldo Soares Filho, Juliana Leroy Davis e Raoni Rajão, uma simulação que leva em conta diversos fatores regionais, como o meio físico, infraestrutura, dinâmica demográfica, ordenamento territorial e governança ambiental, mostra que o desmatamento na área pode passar de 1.150 km² para 9.400 km² anuais. 


"Com o asfaltamento, o desmatamento acumulado alcançaria 170 mil km², quatro vezes maior do que o projetado com a média histórica. As emissões acumuladas de CO2 também mais que quadruplicariam, alcançando 8 bilhões de toneladas, o equivalente à emissão de 22 anos de desmatamento na Amazônia com base na taxa de 2019", diz trecho do estudo.

Acordo de Paris


Os pesquisadores ainda fazem um outro alerta. Com a pavimentação da BR-319, o aumento do desmatamento e da emissão de gás carbônico na atmosfera praticamente invalidaria o cumprimento das metas do país no Acordo de Paris.

Outro ponto é o impacto ambiental não só na região amazônica, mas em todo o país.


"A perda de vegetação nativa afetará diversos serviços ambientais, sobretudo a regulação de chuvas que cai sobre regiões estratégicas para o agronegócio brasileiro", diz a nota.

Há uma estimativa, segundo os pesquisadores de que a redução do nível de chuvas poderá acarretar em prejuízos de U$S 350 milhões apenas nas receitas de geração de energia hidrelétrica, cultivo de soja e pecuária.

"Se a sustentabilidade econômica e socioambiental do asfaltamento da BR-319 é bastante questionável, sua prioridade diante do estado calamitoso da infraestrutura viária nas regiões produtivas do país é definitivamente inconcebível como estratégia de desenvolvimento nacional", completam os estudiosos.

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