A morte costuma ser um assunto complicado de lidar para muitas pessoas. Mas um professor de sociologia que trabalha há cinco anos como coveiro em Cristiano Otoni, a 115 km de Belo Horizonte, afirma que a rotina diária na profissão o fez ver o fim da vida com mais naturalidade. Breno Baeta , de 27 anos, conta que ainda estava começando o curso de Ciências Sociais quando decidiu prestar o concurso público para coveiro na cidade em que mora. Ele ficou em segundo lugar na classificação, mas acabou sendo convocado após o primeiro colocado abandonar o cargo. — No primeiro dia de serviço, muitas pessoas morreram. O cara começou a trabalhar às 8h e, por volta das 12h, já pediu demissão. Aí me chamaram e eu estou aqui há quase cinco anos. Além do trabalho nas salas de aula e no cemitério, o mineiro também tentou a carreira política. Nas eleições do ano passado, Breno Baeta se candidatou à prefeitura da cidade, mas recebeu pouco mais de 1.000 votos. Para tentar evitar a pressão do trabalho, Baeta tentar levar a situação de forma mais leve e descontraída. Fã de rock and roll, ele já chegou a ir ao trabalho vestido com uma camiseta da banda Sepultura e até tentou batizar o cemitério com o nome do cantor Ozzy Osbourne, ex-vocalista do grupo Black Sabbath, mas a ideia não foi bem aceita pela população. — Eu mandei fazer uma plaquinha com o nome do Ozzy e coloquei na entrada do cemitério, mas tem uma lei que impede que locais públicos tenham nome de pessoas vivas, aí eu tirei. Baeta afirma que a profissão de coveiro é mal vista no Brasil, principalmente pelo personagem Zé do Caixão, interpretado pelo ator José Mojica Marins. Mas o professor diz encarar a situação com naturalidade e argumenta que o coveiro é um profissional comum. — Muitas pessoas não conseguem lidar com essa situação. Isso aqui não tem nada demais, é uma repartição pública como qualquer outra e eu sou um trabalhador como qualquer outro. A gente vai levando a vida ou a morte.