O aumento no número de casos de gripe em alguns estados brasileiros reacendeu a preocupação com a doença, mesmo em plena pandemia de Covid-19. Por isso, as pessoas estão dispostas a receber informações que possam ajudar ou prevenir a gripe, atualmente provocada por uma nova variante do vírus H3N2. Uma mensagem que traz dicas de combate à doença vem sendo tão compartilhada que recebeu a marca no WhatsApp a marca de "reenviada muitas vezes". Na mensagem, há orientações que, segundo a publicação, são do "diretor do Hospital das Clínicas", que não é identificado no texto. Algumas das orientações são genéricas e consensuais entre profissionais de saúde, como a importância de lavar as mãos com frequência, usar álcool em gel e evitar locais com aglomeração. Outras parecem mais "conselhos da vovó" do que indicações de um profissional de saúde, como as de comer fígado de boi, tomar vitamina C e ingerir sucos de acerola e laranja. Mas é outra recomendação que recebe destaque maior na mensagem: tomar chá de erva-doce duas vezes ao dia. Essa orientação recebe até uma justificativa. Segundo o texto, o chá teria a mesma substância que o remédio Tamiflu, usado para tratar a gripe A, provocada pelo vírus H1N1. Para detalhar ainda mais, o conselho é que o chá seja tomado como se fosse café, após as refeições. Um outro profissional de saúde cujo nome não é citado, mas seria "infectologista do hospital São Domingos", recomenda no texto que o chá seja tomado de 12 em 12 horas, pois ele "mata o vírus da Influenza", já que "é da erva-doce que é feito o Tamiflu". O Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, que seria o hospital cujo diretor é citado no texto, já divulgou nota sobre o assunto, dizendo que “não confirma informações de texto que circula nas redes sociais em que, supostamente, um diretor do hospital faz recomendações sobre gripe". O Hospital São Domingos, localizado em São Luís, capital do Maranhão, também divulgou comunicado, em que nega as informações e afirma não haver comprovação científica do uso do chá no tratamento da gripe. Sobre isso, aliás, especialistas em produtos fitoterápicos também se pronunciaram. Um artigo feito pelo CIBS (Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde de Farmanguinhos/Fiocruz) e publicado na revista científica Fitos, avaliou diversos artigos científicos e constatou que a erva-doce não contém o princípio ativo do Tamiflu. O Ministério da Saúde também negou essa informação de que a erva doce e o Tamiflu tem o mesmo princípio ativo, que é o fosfato de oseltamivir. O laboratório farmacêutico Roche, responsável pelo desenvolvimento do Tamiflu, também nega que o remédio contenha em sua formulação a erva-doce ou o anis estrelado, outro fitoterápico muitas vezes associado ao produto. Todas essas negativas, aliás, vem sendo repetidas frequentemente nos últimos anos, porque essa mesma mensagem é viralizada de tempos em tempos, de acordo com o vírus circulante. Em 2018 ela já foi viralizada, como indicação ao combate da epidemia de H1N1. E no começo da pandemia de Covid-19, a mesma mensagem circulou, indicando erva-doce contra o Sars-Cov-2. Como afirma o artigo feito pelo Cibis, da Fiocruz, citado acima, não há evidências clínicas, mas estudos sugerem que o chá de erva-doce pode ter propriedades "antimicrobiana, anticonvulsivante, anti-inflamatória, antiespasmódica, broncodilatadora, estrogênica e expectorante". Tomar um bom chá de erva-doce duas vezes ao dia, portanto, não fará mal. No mínimo, pode ajudar a manter a pessoa hidratada, que é um conselho médico para pessoas com gripe. Seguir os conselhos das avós não é um problema, em si. Mas não se pode confundir isso com indicações médicas, sob o risco de se deixar de adotar os tratamentos corretos e sofrer danos ainda maiores à saúde. Você tem uma informação que gostaria que fosse checada? Envie mensagem para o MonitoR7, por WhatsApp ou Telegram: (11) 9-9240-7777