Em setembro de 1976, durante o voo rumo para Tóquio, um dos jornalistas que acompanhavam a visita do presidente Ernesto Geisel ao Japão aproximou-se da poltrona ocupada pelo único nissei do grupo e perguntou:
— Você fala japonês?
— Falo o básico — respondeu o colega. — Dá pra me virar.
— Você consegue falar o necessário pra gente jantar num restaurante em que ninguém fala outra língua?
— Consigo, claro. Isso é fácil.
Com expressão de alívio, o autor das perguntas explicou que, para escapar das indicações dos guias de viagem, havia descoberto um restaurante fora do circuito turístico que só servia comida típica de ótima qualidade. O problema era o idioma: nem o gerente nem qualquer funcionário entendia inglês, muito menos português.
— Pode deixar comigo — disse o nissei.
Os rapazes da imprensa festejaram a remoção do obstáculo e já no dia seguinte ao desembarque estavam no restaurante. Sentado na cabeceira, o nissei avisou que pediria o mesmo prato para todos.
— É o meu preferido desde a infância — informou. — Vocês vão adorar.
Em seguida, convocou um garçom com o dedo indicador e disse alguma coisa. O garçom pareceu intrigado. O nissei repetiu em tom mais elevado o que dissera. O garçom riu alto e chamou um colega. Depois de dez minutos e mais cinco reprises do pedido, todos os
garçons do restaurante gargalhavam em torno da mesa, o nissei olhava para baixo ruborizado e os demais brasileiros não faziam a menor ideia do que estava acontecendo.
Até que apareceu, vindo de uma mesa próxima, outro nissei que falava japonês e português. Ao ouvir mais uma vez a frase, sugeriu ao jornalista que contasse a verdade. E enfim o protagonista do fiasco internacional confessou que tinha pronunciado no restaurante uma das pouquíssimas frases em japonês que a memória arquivara. Quando era criança, bastava dizer aquilo para que a mãe fosse para a cozinha e voltasse em poucos minutos com alguma comida sempre saborosa. Em Tóquio, a coisa não funcionou.
E então o nissei efetivamente bilíngue traduziu para o português a misteriosa sopa de letras em japonês:
— Mamãe, neném qué papá.