Ao divulgar o balanço prévio o mercado automotivo em 204, a Anfavea, associação nacional dos fabricantes de veículos, elencou uma série de desafios para o crescimento do setor. Diante de uma mudança repentina nas previsões econômicas que apontam para um dólar mais alto, piora nas contas públicas, indefinições tributárias e também juros ao consumidor mais caro e restrito, a entidade lista alguns desafios para superar a barreira dos três milhões de veículos produzidos e vendidos em 2025. O R7-Autos Carros conversou com Marcio Lima Leite, presidente da Anfavea, logo após o encontro com jornalistas do setor, no qual a entidade mostrou números e comemorou os resultados, mas também falou de algumas dificuldades persistentes o setor.“Se nós tivéssemos mantido as mesmas condições de taxas de juros, teríamos fechado em três milhões de unidades, coisa que estaríamos imaginando para 2028. Taxa de juros dentro da normalidade e taxa de câmbio controlada seria uma normalidade para dizermos o setor voltou. Mas podemos chegar. Podemos chegar sim”, disse Marcio Lima Leite. Sabemos que os juros mais altos são reflexo de uma deterioração das contas públicas e para um crescimento robusto, as indústrias contam com a responsabilidade fiscal capaz de reduzir os juros de forma consistente - e não artificial - para impulsionar as vendas de veículos e atrair investidores. Claudio Sahad, diretor do Sindipeças, também presente no encontro, lembrou que nos últimos meses muitas indústrias chinesas passaram a produzir peças no México, onde o custo tributário é menor. “Se melhorarmos o ambiente de negócios para a indústria como um todo todos ganham. Nesse mundo onde falamos em ESG, descarbonização, energia limpa, o Brasil tem tudo para dar um salto de qualidade e as empresas podem produzir aqui perto das fontes de energia limpa e assim queremos trabalhar”, disse.Marcio Lima Leite lembrou de alguns entraves logísticos para melhorar o ritmo e exportações no país, indo além dos parceiros como a Argentina e Colômbia, que voltaram a crescer. “Enfrentar esse custo é para ontem”, disse Leite, lembrando que no caso dos portos há muito o que ser feito para tornar o escoamento a produção mais dinâmico. “Os portos são ineficientes para operações de exportações. Temos ainda dificuldades regulatórias, pois o Brasil tem uma regra para licenciamento de veículos, Argentina tem outro, Colômbia tem outro, um processo que leva 6 meses para adaptar o produto ao mercado de destino. É urgente o Brasil ter um acordo, uma harmonização regulatória com esses países. O Brasil é extremamente avançado e evoluiu na sua legislação, mas operação precisa mudar”, lembrou Leite.Diante de um crescimento de 229% das importações de carros vindos da China, a Anfavea defende a volta de taxas de 35% para veículos importados de forma antecipada. “Se não tivemos uma ‘recomposição’ certamente as importações vão atrapalhar nosso mercado”, defendeu. A Anfavea também admite que tem negociações avançadas com o governo federal para poder mostrar que a condição tributária atual impede o crescimento a indústria brasileira, na visão da entidade. O Sindipeças também elogiou as negociações de empresas chinesas que anunciaram a produção no Brasil, como a GWM que anunciou a produção nacional do Haval para 2025 com mais de 100 componentes feitos no Brasil. “Foi feita uma webinar com fornecedores interessados onde a GWM apresentou o processo de localização das peças. Já vamos começar a iniciar tratativas a partir do começo do ano. No segundo semestre devem estar começando a utilizar alguns produtos localizados no Brasil na linha do Haval H6. Já tivemos também um contato com a BYD (que está construindo uma fábria em Camaçari/BA) mas não tivemos ainda retorno”, pontuou Claudio Sahad.A Anfavea revelou descontentamento com as condições tributárias do país. Mesmo em meio ao projeto da reforma tributária, itens como o automóvel serão sobretaxados pelo chamado imposto seletivo. Nos últimos dias, itens como bebidas açucaradas como os refrigerantes e também as armas foram excluídos do imposto seletivo, mas o automóvel não, por ser considerado danoso o meio ambiente. “Não perdemos a guerra. O imposto seletivo vai na contramão de tudo. Tudo que temos feito pela renovação da frota para incentivar o consumidor e cliente, todo esforço é pela descarbonização e segurança. O imposto seletivo vem na lógica de tributar algo que irá melhorar o meio ambiente, estimular renovação frota, em prol do meio ambiente. É incompreensível os carros estarem dentro do imposto seletivo”, pontuou Marcio Lima Leite.