Reação internacional e rede social fizeram presidente da Coreia do Sul voltar atrás em tentativa de golpe
Yoon Suk Yeol montou a narrativa tradicional de um golpe de estado
Impopular, atolado por escândalos (inclusive de corrupção envolvendo a própria esposa), pressionado até pelo próprio partido e sob ameaça de um processo de impeachment no Congresso. A situação do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, já era quase insustentável. Ele foi eleito em 2022 com uma margem apertada, famoso por ser promotor contra a corrupção. Mas a lua de mel com o povo durou pouco.
Até que ele resolveu acatar uma ideia guardada no gabinete do Ministro da Defesa: a lei marcial no país. Mas, para isso, precisava de uma justificativa.
Yoon Suk Yeol montou a narrativa tradicional de um golpe de estado: fez um pronunciamento à nação alegando que o país estava sob “ataque” da oposição (que estaria planejando uma rebelião) e que precisava restaurar a lei e a ordem.
O presidente, então, decretou a temida lei marcial, que é adotada em situações excepcionais, como uma guerra ou em caso de desastres naturais.
Ou seja: ele fechou o Congresso, restringiu a imprensa, estabeleceu toque de recolher, impediu qualquer manifestação ou rebelião e avançou sobre as forças armadas. Nesse caso, ele fica com “super-poderes”.
“A lei marcial tem como objetivo erradicar as forças pró-Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional de liberdade”.
A situação é tão fora da realidade que nem a Coreia do Norte, famosa por seus discursos inflamados, se pronunciou.
Só que o presidente esqueceu que o país não vive mais no passado, tem uma imprensa livre, redes sociais, uma juventude ativa e está inserida em um mundo globalizado.
Assim que fez o pronunciamento, a reação foi imediata. Os EUA, principal aliado, que têm mais de 30 mil tropas estacionadas no país, reagiram dizendo que não foram avisados e que estavam preocupados.
Japão e outros países asiáticos, historicamente aliados, adiaram reuniões e fecharam canais de comunicação.
Do outro lado, a população foi às ruas, convocou protestos, foi até a porta do Congresso. Membros da oposição pularam o muro para começar a votação para derrubar a lei marcial. Um deles fez uma live mostrando a situação que atingiu milhares de seguidores em todo mundo.
A imagem da Coreia estava manchada. As forças armadas cercavam o prédio, mas já com aparente vergonha. Alguns entregaram às armas. Eles então votaram: foi histórico. 190 a favor para derrubar a lei e nenhum voto a favor.
Pressionado por todos os lados, Yoon Suk Yeol voltou atrás e revogou a decisão. O golpe durou menos de 20 horas. Mas o estrago já estava feito.
A oposição deve conseguir o impeachment em tempo recorde. A desventura em série do presidente terminou com a imagem do país arranhada. Os EUA disseram que a base da relação com os coreanos é a força da democracia.
Yoon Suk Yeol vai ficar para história sul-coreana como o responsável pelo golpe de estado mais desastroso de todos os tempos. Golpe de estrago e o fim da carreira.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.