Governo de coalizão repete formato de partilha de cargos, mas base parlamentar não está garantida.
Jacqueline Lisboa/Reuters - 1º.1.2023Sem uma base de apoio parlamentar que garanta estabilidade política a seu terceiro mandato, o presidente Lula lança mão, a partir desta semana, dos cargos de segundo e terceiro escalões como forma de acomodar aliados e partilhar poder com legendas que serão potencialmente fiadoras da governabilidade.
Partidos de esquerda, aliados ao Planalto, controlam hoje 124 das 513 cadeiras da Câmara, enquanto legendas do chamado Centrão detêm quase o dobro: 235. A correlação de forças obriga o chefe do Executivo à formação de alianças, em busca de votos e estabilidade.
A lista inclui a poderosa Codevasf, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, reduto do Centrão, agora cobiçado pelo União Brasil, de Luciano Bivar e do líder Elmar Nascimento, preterido para o ministério da Integração Nacional. A estatal tem orçamento de R$ 2,2 bilhões em 2023.
Na área de infra-estrutura, cargos que já foram controlados pelo MDB e garantiram poder e capilaridade ao partido também estão sobre a mesa. É o caso do DNIT, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, alvo de várias denúncias de corrupção a partir de 2012, ainda sob apuração. Assim como Dnocs, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, posto disputado por parlamentares do Nordeste.
Integram a lista também o FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o Banco do Nordeste e as superintendências do Incra nos Estados.
A entrega de postos de comando, ferramenta clássica do governo de coalizão, inclui o controle de fatias do orçamento público - estilo batizado de “velha política” pelos críticos da prática comum à política brasileira. Definida a equipe ministerial, inclusive com vagas entregues ao União Brasil, os cargos de comando em órgãos que operam as políticas públicas funcionam como braços executores dos partidos.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.