O Supremo Tribunal Federal chega na semana decisiva para o teste de sua força institucional dando mostras de divergências internas quanto a julgamentos e penas relacionados ao bolsonarismo. Decisões dos ministros Luiz Fux, Nunes Marques e André Mendonça às vésperas do início do julgamento que pode tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro fragilizam a posição pública da Suprema Corte. Houve constrangimento e reação interna.A decisão de Nunes Marques, tomada a apenas 24h do início do julgamento da denúncia contra o núcleo um dos acusados de golpe de Estado, de interromper o julgamento que tende a levar à condenação e consequente cassação da deputada Carla Zambelli foi a mais expressiva desta divisão. Militante do bolsonarismo, a deputada responde por ter ameaçado com uma arma apoiador Lula, em via pública, às vésperas da votação do segundo turno da eleição de 2022.Logo após o pedido de vista de Nunes Marques, que lhe garante 90 dias para se pronunciar sobre o tema, os ministros Zanin e Toffoli anteciparam seus votos pela condenação de Zambelli, consumando a maioria pela condenação, até aqui de 6 a 0. A conclusão do julgamento, que ocorre em plenário virtual, só ocorre após o fim do prazo de vista pedido por Nunes e a apresentação do voto do ministro.Nunes Marques é um dos indicados por Bolsonaro a integrar a Corte Suprema brasileira e comandará o processo eleitoral de 2026, ao assumir a presidência rotativa do Tribunal Superior Eleitoral.Também na véspera do julgamento da denúncia que alcança Bolsonaro, o ministro Luiz Fux deu novo sinal de que a união interna no tribunal em casos envolvendo alegadas ilegalidades de bolsonaristas dá sinais de fragilidade. O magistrado pediu vista da decisão que condena Débora Rodrigues dos Santos a 14 anos de prisão e também interrompeu o julgamento por 90 dias – prazo para a entrega de seu voto sobre o julgamento.O caso de Débora é considerado simbólico por defensores da anistia aos envolvidos com os atos de 8 de janeiro de 2023. Durante os ataques às sedes dos três poderes, em Brasília, a cabeleireira pichou com batom a estátua da Justiça, onde escreveu “perdeu, Mané”. Ela responde, no entanto, por ter aderido ao movimento golpista desde o fim de 2022, segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República.Há quatro dias, outro ministro a manifestar divergência às decisões dos colegas foi André Mendonça, único a acatar os argumentos da defesa de que os ministros Flávio Dino e Alexandre de Moraes estariam impedidos de participar do julgamento que decidirá sobre a denúncia que transforma Bolsonaro em réu no caso da tentativa de golpe.Mendonça, que foi indicado por Bolsonaro para integrar o STF, terminou isolado na posição de acatar a suspeição dos colegas da primeira turma. O resultado foi de 9 a 1, no tema, confirmando que os ministros estão aptos a participar do julgamento.