Está previsto para durar 12 semanas o julgamento da maior ação ambiental da história. Em plena capital britânica, o caso do desastre de Mariana promete levar às portas do tribunal familiares das vítimas, indígenas e quilombolas, além de representantes 2,2 milhões de afetados pelo rompimento da Barragem do Fundão, em 5 de novembro de 2015. A decisão judicial envolve indenização de US$ 44 bilhões, o equivalente a R$ 230 bilhões.A ação é movida contra a BHP, multinacional de origem anglo-australiana, acusada da morte de 19 vítimas diretas do rompimento da barragem em Minas Gerais, e dos prejuízos causados a 620 mil vítimas representadas pelo escritório de advocacia Pogust Goodhead.O grupo é especializado em causas internacionais coletivas de grande escala ligadas a questões ambientais, que incluem, apenas no caso do Brasil, o rompimento da Barragem de Brumadinho e o afundamento de bairros em Maceió.A partir da próxima segunda-feira (21), o tribunal ouvirá os dois lados da querela judicial – sendo dois dias para cada um. A oitiva de testemunhas do lado da BHP tomará as três semanas seguintes.A gigante da mineração escalou integrantes da cúpula para prestar contas à Justiça inglesa, como Peter Beaven, diretor financeiro da BHP até 2021, e Christopher Campbell, vice-presidente de Estratégia da empresa até 2011.A partir de 18/11, o tribunal começará a tomar o testemunho dos autores da ação. Os advogados das vítimas do desastre ambiental escalaram especialistas em questões técnicas e também na legislação brasileira para falar ao juiz inglês.A complexidade do julgamento envolve aspectos de geotecnia, licenciamento, responsabilidade civil, direito ambiental, direito societário e legitimidade dos municípios.A pressão da opinião pública também tem papel importante no julgamento, acompanhado de perto pela imprensa britânica, tanto pelo ineditismo quanto pela gravidade do caso.O prestigiado The Guardian, por exemplo, dedicou alentada reportagem ao caso, destacando o profundo impacto ambiental do rompimento da barragem do Fundão, que liberou 44,5 milhões de metros cúbicos de lama tóxica – o equivalente a 13 mil piscinas olímpicas, e mais 13 milhões de metros cúbicos nos dias que se seguiram à tragédia.Os rejeitos percorreram 675 quilômetros, atingindo o Rio Doce e o Oceano Atlântico, até alcançar o litoral do Espírito Santo e sul da Bahia – num dos desastres mais devastadores e que ainda hoje, 9 anos depois, afeta a população atingida.