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Christina Lemos - Blogs

Um abraço e um sorriso, em tempos de brutalidade política

Ricardo Nunes surpreende com contato físico inesperado e desmonta adversário. Mas segue exposto a chuvas e ventanias

Christina Lemos|Christina LemosOpens in new window

Guilherme Boulos (esq) e Ricardo Nunes se abraçam em debate do segundo turno das eleições de São Paulo FELIPE MARQUES/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO — 14.10.2024

Na política feita de símbolos, um abraço e um sorriso em tempos de hostilidade podem ter resultado virtuoso. O surpreendente gesto do prefeito Ricardo Nunes no debate desta segunda-feira desmonta um ciclo de agressões e provocações iniciado no primeiro turno da campanha mais analisada e escrutinada do país.

Guilherme Boulos chegou para o embate beneficiado por um fato inesperado - a tempestade seguida de um apagão - que lhe caiu no colo como um presente. O prefeito, que disputa a eleição ainda no cargo, tinha a vidraça ainda mais exposta e rota, diante do trunfo do adversário.

Ao sair de sua tribuna e aproximar-se fisicamente do adversário no momento em que o emedebista lhe fazia duras críticas, Boulos atravessou a linha do racional para o simbólico. Foi para o olho-no-olho, para o “diga isso olhando na minha cara”. Uma cena que remonta os momentos mais tensos do confronto entre Lula e Bolsonaro em 2022.

O psolista assumiu o risco do imprevisível. E ele veio. Boulos se aproxima lentamente, e Nunes reage com o contato físico inesperado. Rompe a barreira da animosidade, com um gesto amistoso. Pego de surpresa, não restou a Boulos alternativa senão corresponder, desajeitadamente.


Bolsonaro foi menos feliz ao tentar o mesmo com Lula. Faltou ao então presidente a espontaneidade que sobrou em Nunes. Escolado, Lula não mordeu a isca. E a organização do debate tremeu nas bases.

Na noite desta segunda, o surpreendente abraço de Nunes a Boulos arrebatou a atenção da audiência e ainda ecoa no dia seguinte. O complemento ainda estava por vir: “Você não vai me intimidar. Eu vim da periferia do parque Santo Antônio, não tenho medo de nada, só de Deus.”


Pode ter soado cabotino ou até hipócrita aos mais críticos. Mas o prefeito pós-graduou na simbologia política e pode ter “jantado” o adversário neste lance de poucos segundos.

Faltam, no entanto, dez longos dias até o segundo turno. Uma eternidade para quem está na chuva e exposto a vendavais.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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