O Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, deve decidir em reunião na terça (18) e quarta-feira (19) elevar a taxa básica de juros da economia brasileira em 1 ponto percentual, passando dos atuais 13,25% para 14,25% ao ano. Essa é a expectativa do mercado para a Selic, que foi sinalizada pelo próprio comitê no último encontro.Com isso, a taxa vai atingir o maior patamar registrado desde julho de 2006, na quinta alta consecutiva, desde setembro. É a segunda reunião com o comando do presidente do BC, Gabriel Galípolo, que tomou posse no começo do ano.A Selic é o principal instrumento para controlar a inflação. Juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. No entanto, taxas maiores dificultam o crescimento econômico.Após alta da inflação, o Banco Central tem intensificado o aumento dos juros para conter o consumo e os preços. Em fevereiro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que mede a inflação oficial do país, foi de 1,31%, maior índice para o mês desde 2003.No entanto, com a queda do dólar, que fechou em R$ 5,74 na sexta-feira (14), houve melhora no cenário para a inflação, de acordo com análise da equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles. “Isso porque a valorização registrada na taxa de câmbio deve ter mais que compensado o efeito da elevação das expectativas de inflação”, avalia em nota.“Acreditamos, por ora, que o Banco Central deve fazer mais duas elevações nos juros, além da já sinalizada para a reunião desta semana, até o meio do ano e, com isso, a Selic deve terminar o ano em 15%. Projetamos que a Selic se mantenha nesse patamar até o fim de 2026″, acrescenta.Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, o câmbio mais baixo ajuda o cenário do Banco Central, com menor impacto sobre os preços. Mas o BC deverá continuar com esse ciclo de alta de juros para atingir o objetivo de levar a inflação de volta para perto da meta de 3%.“A nossa expectativa é de uma alta na taxa de juros em um ponto percentual na reunião desta semana, como já sinalizado pelo próprio Banco Central na reunião de janeiro. Ao nosso ver, o BC tem que continuar com essa postura bastante restritiva, porque o cenário ainda é desafiador. O risco fiscal continua”, afirma Sung.Segundo ele, a evolução da economia brasileira, os próximos dados de inflação, de atividade econômica ou do risco fiscal devem ser analisados, além do cenário internacional, que segue incerto diante principalmente de tarifas e uma guerra comercial entre Estados Unidos e alguns países.“A nossa expectativa para maio é de 0,75 e para junho 0,25 ponto percentual, ou seja, encerrando o ciclo em 15,25% que se estende até o final do ano”, projeta o economista.Em relatório, analistas da XP acreditam que, se a desaceleração da atividade econômica se intensificar, o Copom poderá optar por interromper a alta de juros antes do previsto.“Mantivemos nossa previsão de crescimento do PIB em 2% este ano, com o impulso potencial de medidas governamentais. A taxa Selic deve permanecer em 15,50%, após altas de 1, 0,75 e 0,50 pontos percentuais nas próximas três reuniões do Copom”, afirma em nota.O Sicredi também mantém a projeção de que o Copom eleve a taxa Selic para 14,25% ao ano nesta semana. Para os economistas do Bradesco, a queda dos preços de commodities e a valorização cambial em relação ao último Copom devem contribuir para projeções menores de inflação no horizonte relevante, segundo o modelo do BC.“Assim, entendemos que a comunicação irá mudar, com aumento dos graus de liberdade na condução da política monetária. O BC provavelmente irá querer se beneficiar do tempo e dos dados que serão divulgados, ajustando sua necessidade de aperto adicional conforme os dados”, avalia em nota.Caio Camargo, estrategista de investimentos do Santander, afirma que o cenário econômico atual, com um mercado de trabalho aquecido e uma demanda interna robusta, sustenta a necessidade de uma política monetária contracionista. “A decisão do Copom será crucial para sinalizar o rumo da economia brasileira, especialmente em um contexto de pressões inflacionárias globais e desafios econômicos internos”, afirma Camargo.Segundo ele, o aumento da Selic pode impactar diretamente os rendimentos de investimentos em renda fixa pós-fixados, como Tesouro Selic, Letras e CDBs, tornando-os mais atrativos. “Por outro lado, investimentos em renda variável podem enfrentar maior volatilidade a depender do tom do comunicado, especialmente em setores sensíveis a juros, como o imobiliário. A decisão do Copom será um indicador importante para ajustar estratégias de investimento, buscando equilibrar riscos e oportunidades no cenário econômico atual.”O novo ciclo de alta da Selic começou em setembro do ano passado. Em novembro, a elevação foi de 0,50, passando para 11,25%, e chegou a 12,25% ao ano em dezembro, com alta de 1 ponto percentual. Em janeiro deste ano, houve outra alta de 1 ponto percentual, e a taxa chegou a 13,25% ao ano.A taxa básica de juros é uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando os juros básicos são reduzidos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.É a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo em empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.