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Conversa de Repórter
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A bronca que levei do telespectador

Nossa audiência está mais ligada e participativa. Às vezes, a bronca não virá da chefia. Virá do público, que faz questão da nossa companhia

Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho


Reportagem exibida no 'Balanço Geral'
Reportagem exibida no 'Balanço Geral'

Um telespectador, que nem me segue nas redes sociais, fez questão de procurar o meu perfil para me dar uma bronca. Ele viu uma reportagem que fiz, há poucos dias, sobre uma ciclista que teve a bike roubada enquanto pedalava. A bicicleta, avaliada em R$ 80 mil reais, foi levada por dois assaltantes, na zona sul de São Paulo.

Até aí, nada de estranho aos olhos do telespectador. Mas uma única informação o incomodou, a ponto de fazê-lo entrar em contato comigo. Na matéria, eu disse que o celular da vítima só não tinha sido levado porque ela o escondeu num bolso da roupa de ciclismo.

A mensagem do telespectador começava dizendo que ele havia notado algo "que tem sido comum em reportagens, mas que acaba sendo um desserviço". E foi além: "Existem detalhes que não precisam ser explicitados, como a questão do celular escondido".

Ele não está errado, e também não vejo problema em reconhecer que foi um deslize. A preocupação do telespectador era que essa informação pudesse, de alguma forma, alertar criminosos para próximas ações. Faz todo o sentido. Aliás, com o passar do tempo, certos costumes do jornalismo têm sido modificados.

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Já é uma orientação permanente o cuidado com imagens, textos e áudios que possam, de alguma forma, chocar o público. Há a possibilidade de informar sem mergulhar o telespectador em detalhes que não acrescentam nada.

Quando li a mensagem daquele rapaz, entendi que a crítica foi construtiva e de alguém atento às informações que consome na televisão. No campo das ideias, absolutamente, tudo é considerado. Como disse aqui, o telespectador nem me segue nas redes sociais, mas quis me procurar para opinar. Isso mostra, inclusive, que o jornalismo não tem passado por mudanças internas ou de caráter mais técnico, apenas. A nossa audiência também está mais ligada e participativa.

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O dia a dia da reportagem é tão corrido e, por vezes, tão conturbado que, infelizmente, uma coisa ou outra pode escapar aos olhos de quem tem o papel de filtrar o que vai para o ar. No corre-corre da rua, na busca por detalhes para compor uma matéria e na luta desumana contra o relógio, “escorregões” podem — mas não devem — acontecer.

Nesse caso, especificamente, não foi um erro de informação nem nada que pudesse comprometer ou arranhar a reputação de alguém, que é uma das preocupações diárias do jornalismo investigativo e policial. Mas, sim, era um detalhezinho, desnecessário, que contribuiria mais se não estivesse ali.

Eu não saio de casa pra cometer deslizes, nem a equipe que trabalha tanto para pôr nosso jornal no ar. Mas como somos cabeças e não inteligência artificial, estamos sujeitos ao dissabor do equívoco. Do mesmo modo, podemos aproveitar as falhas e transformá-las em aprendizado. Olha quanta riqueza que há nisso, minha gente. Às vezes, a bronca não virá da chefia. Virá do público, que faz questão da nossa companhia na hora do almoço.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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