Desinformação mata. Vacina,não!
Quando criança, nunca reclamei de agulhada no braço. Nunca quis saber quem produzia as vacinas. Não seria agora, aos 30 anos, que cometeria essa insensatez.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
Achei que passaria ileso depois de dois anos e meio de pandemia. Até então, amigos, colegas e familiares já tinham sido contaminados pelo vírus. A Covid me rondava, chegava perto, mas não me pegava. Não fiz muitos, mas já tinha realizado alguns testes e todos sempre davam negativo. Eu, sinceramente, me achava um privilegiado, afinal, vida de repórter é um risco constante. Durante todo esse tempo, trabalhei normalmente e estive em muitos lugares.
Sempre me cuidei, mas nunca "bitolei". Já sou ansioso por natureza. Procurei não sofrer por antecedência, por mais apreensivo que eu tenha ficado sobre os riscos de contrair o vírus. Demorou, mas o meu diagnóstico veio. Quinze dias antes, inclusive, eu tinha feito um teste porque estava com sintomas de gripe. E, realmente, era só uma gripe mesmo.
Mas teve um dia que amanheci meio esquisito, com uma dor de cabeça intensa. Acordei, tomei remédio, mas aquele incômodo não passava. No fim da tarde, minha namorada percebeu que eu estava quente. Medi e a temperatura oscilou entre aquele estado febril e a febre propriamente dita. Fiquei em alerta.
No dia seguinte, eu estava um pouco melhor, mas ainda estranho. Soube que meu cinegrafista, Daniel Macedo, havia testado positivo e nós tínhamos trabalhado há pouquíssimos dias. Fui ligando os pontos. Mais tarde, fiz o teste: positivo. Minha namorada teve o mesmo diagnóstico. Cheguei a agradecer a Deus porque, longe das nossas famílias, encarar a doença na companhia um do outro seria muito mais fácil.
Claro que ficamos baqueados com o resultado. Tínhamos até um compromisso pra ir na mesma semana e acabamos, evidentemente, não comparecendo. Mas, sinceramente, depois das lamentações, a gente agradeceu muito por ter contraído o vírus depois das três doses da vacina. Eu tenho hipertensão. Faço parte do grupo de risco. Tive, sim, medo desse quadro se agravar. Mas, felizmente, os sintomas foram mais brandos.
Foram sintomas fortes de gripe, principalmente, nos três primeiros dias: tosse, coriza, febre, dor de cabeça... Mas, depois, com os medicamentos, a melhora foi acontecendo. Depois de dez dias longe da TV e uma semana afastado aqui do blog, voltei ontem ao trabalho. Continuo, ainda, com um pouco de tosse e um pigarro chato, que incomoda, mas vai passar. Isso foi só o que restou.
Agora não falo mais da doença como repórter. Falo como alguém que contraiu o vírus. Falo com muito mais propriedade sobre a eficácia da vacina, sobre a importância dela. Por mais que muita gente tenha defendido o contrário por aí, é fato que muitas pessoas não teriam perdido a vida se tivessem tido a mesma chance que eu: a oportunidade valiosa da prevenção.
As doses não evitaram o contágio, a transmissão nem os sintomas. Mas, certamente, evitaram que a doença fosse grave em mim e nas pessoas que eu mais amo no mundo e que também testaram positivo recentemente. Longe de mim querer politizar esse assunto. Não tenho tempo nem paciência pra isso. Até porque, não é sobre política. É sobre ciência.
Quando criança, nunca reclamei de agulhada no braço. Nunca quis saber quem produzia as vacinas. Não seria agora, aos 30 anos, que cometeria essa insensatez. Pelo contrário. Acho que nunca agradeci tanto em toda a minha vida.
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