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Deus ajuda quem cedo madruga 

Aquele era meu dia de sorte. E olha que nem em sorte eu acredito. Mas, em certos momentos, parece que o universo conspira a favor.

Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho

Caminhão, carregado de carne, invade muro de condomínio, em SP
Caminhão, carregado de carne, invade muro de condomínio, em SP Caminhão, carregado de carne, invade muro de condomínio, em SP

A história, por si só, já seria inusitada. Um caminhão, desgovernado, e carregado de carne, havia invadido o muro de um condomínio, na zona norte de São Paulo. Era madrugada quando a notícia chegou à redação. Aquela seria a nossa aposta do dia.

Coincidentemente, o prédio atingido era o mesmo onde morava o meu repórter cinematográfico, Ricardo Bonifácio. Pra nós, já era meio caminho andado. O Ricardinho tinha livre acesso ao condomínio e ainda conhecia a síndica e moradores que poderiam ajudar na nossa apuração.

Quando chegamos, a movimentação de policiais era grande. Logo, de cara, flagramos uma pequena confusão na porta de um estacionamento. Tinha sido por lá que o caminhão havia invadido o condomínio. A dona e a síndica do prédio batiam boca. A mulher, responsável pelo espaço, não quis falar comigo. Nem me deixou entrar pra mostrar o estrago. De longe, a imagem já era impressionante. O caminhão estava pendurado com a carroceria aberta. Faltou um triz pra ele despencar do barranco e atingir os apartamentos.

Como num piscar de olhos, a dona do estacionamento mudou de ideia. "De que TV você é?", perguntou ela."Da Record", respondi. "Ok, vai lá. Pode entrar". Não pestanejei. Entrei rápido antes que a mulher decidisse voltar atrás. Aquela era a chance de ver tudo mais de perto. E foi a oportunidade que eu tive pra descobrir que a história não era bem aquela. Não tinha sido, apenas, um acidente. Tinha algo muito maior por trás.

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Ao entrar, me aproximei dos policiais. Assim que me apresentei, perguntei o que tinha rolado. Um dos oficiais me disse: "O caminhão é roubado e, aparentemente, ao tentar fazer uma manobra no estacionamento, o motorista perdeu o controle e desceu ladeira abaixo até bater no muro do prédio, aos fundos". Naquele momento, eu tinha outra reportagem. Era outra versão. Aquilo mudava tudo e me fazia pensar nas mais diversas possibilidades.

Câmeras de segurança registraram o momento em que o caminhão desce, desgovernado
Câmeras de segurança registraram o momento em que o caminhão desce, desgovernado Câmeras de segurança registraram o momento em que o caminhão desce, desgovernado

Entre uma pergunta e outra, num bate-papo informal com o policial, questiono se o motorista – provavelmente, o criminoso – havia sido localizado. Ele responde: "Não. Inclusive, a imagem da câmera de segurança mostra um homem fugindo logo em seguida". Eu rebato: "Câmeras? O senhor tem essa imagem? Eu posso ver?". Esperando uma resposta negativa, me surpreendi, novamente. "Tenho aqui, sim, dá uma olhada", respondeu o PM.

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A imagem era nítida. Mostrava, exatamente, tudo. Toda a dinâmica daquele incidente estava registrada no vídeo. Enquanto eu assistia, pensava em como iria convencer o policial a me passar o circuito. Eu era, até então, o único repórter lá dentro. Aquela era a primeira imagem do caso, que tinha acontecido há poucas horas. "O senhor poderia me passar essa imagem? Me ajudaria muito". De forma sucinta, ele disse: "Me passa seu número".

Pronto. Aquele era meu dia de sorte. E olha que nem em sorte eu acredito. Mas, em certos momentos, parece que o universo conspira a favor. É Deus ajudando quem cedo madruga. Eu tinha outra história e imagens exclusivas daquela que era nossa aposta do dia. Ao chegar mais perto do caminhão, a imagem era ainda mais surreal. Técnicos da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego – e da Defesa Civil estudavam a melhor maneira de tirar o veículo, pesado, carregado com 12 toneladas de carne, daquele lugar. Seria uma baita força-tarefa.

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Força-tarefa pra içar caminhão pendurado em barranco
Força-tarefa pra içar caminhão pendurado em barranco Força-tarefa pra içar caminhão pendurado em barranco

Felizmente, ninguém ficou ferido. Mas, a síndica e os moradores do prédio estavam indignados. O Ricardo Bonifácio, repórter cinematográfico, e morador do prédio me ajudou a ter acesso ao condomínio. Lá, conversamos com as pessoas que, assustadas, passaram a madrugada em claro. Algumas, tiveram de se amontoar, de forma improvisada, na academia e outros espaços do local. O que mais se via eram os vizinhos carregando colchões, travesseiros e cobertores.

Passamos a madrugada e, praticamente, a manhã toda por lá. Graças ao Ricardinho, conseguimos um local privilegiado para abrir o Balanço Geral Manhã, ao vivo. Estávamos, praticamente, debaixo do caminhão pendurado. Era uma área isolada, mas o ponto onde ficamos estava seguro. Nesse meio tempo, enquanto a gente se preparava pro jornal, eu ia escrevendo a reportagem, falando com a chefia, editores e gerando todo o material exclusivo.

Ao vivo, no Balanço Geral Manhã, pela Record
Ao vivo, no Balanço Geral Manhã, pela Record Ao vivo, no Balanço Geral Manhã, pela Record

O jornalismo factual é, mesmo, vibrante. A gente se surpreende a cada instante. A história chega de um jeito, mas, quanto mais a gente cava, mais a gente descobre novos detalhes. E, muitas vezes, são detalhes que mudam todo o direcionamento do caso. É claro que nem sempre é assim. Tem dia que parece água mole em pedra dura. Só que a gente bate e não fura. Dá aquela frustração, mas amanhã é sempre um novo dia. Depois, ficam as histórias, os bastidores e os perrengues pra contar. E eu, como não sou baú, não estou aqui pra guardar segredo, né?

Até quinta-feira!

Como foi pro ar? Veja um trecho da cobertura no dia, ao vivo, no Balanço Geral Manhã

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