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Conversa de Repórter

Entre a vida e a morte

A vida é um sopro e, pra mim, confesso, isso é difícil de aceitar. Toda morte trágica me faz refletir e, de certa forma, me amedronta. 

Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho

Último registro de Marília Mendonça antes de embarcar
Último registro de Marília Mendonça antes de embarcar

A morte, repentina, da cantora Marília Mendonça deixou o Brasil entristecido. Não foi só uma voz que se calou. Uma filha se foi. Uma mãe não voltou. Um amor da vida não ficou na vida de alguém.

Quando soube da notícia, não acreditei. Até porque, no início, a informação era de que ela e os outros quatro ocupantes da aeronave estavam fora de perigo. Eu poderia até me alongar mais, repercutindo esse erro grave da assessoria de imprensa da artista, mas minha reflexão hoje, aqui, será outra.

Eu nunca fui a um show da Marília Mendonça nem tive a chance de entrevistá-la. Adoraria qualquer uma das oportunidades. Cantar num show as modas que eu gosto seria muito mais divertido do que cantá-las no banho, com certeza. Ainda assim, me vi triste e pensativo. Não é preciso conhecer alguém, intimamente, pra sentir a dor de uma perda tão trágica. Basta, apenas, ser humano.

Essa é uma das grandes dificuldades que enfrento no dia a dia da reportagem. Teoricamente, eu deveria ser frio. Mas nem sempre eu consigo. Nem sempre eu deixo a pauta na rua. Muitas vezes, levo pra casa o que não me pertence, diretamente. E aquilo fica na minha mente martelando, martelando, martelando...


Testemunhar histórias de dor, dói na gente também. Dessa vez, não participei da cobertura, mas cada imagem que eu via, cada palavra dita, cada homenagem prestada, me tocavam, igualmente. Ver minha namorada chorando igual criança por ser fãnzaça da cantora também me doeu. Me doeu por ela e pela comoção geral. 

Não há tempo a perder
Não há tempo a perder

A vida é um sopro e, pra mim, confesso, isso é difícil de aceitar. Toda morte trágica me faz refletir e, de certa forma, me amedronta. Me amedronta porque todos nós estamos expostos aos riscos de alguma coisa nos levar de repente. A gente sai todos os dias sem ter a certeza de que vai voltar. Meu Deus, como é dura essa constatação.


Sinceramente, essa é uma das minhas fragilidades. Por mais que eu busque a minha evolução, o crescimento e a compreensão das coisas, ainda tenho dificuldade em lidar com esse lance de estar aqui agora e, de uma hora pra outra, não estar mais. Sim, eu sei. Talvez, me falte, mesmo, um pouco mais de sabedoria.

Mas, aqui, entre nós: viver é tão bom, não é? Sonhar, acreditar e realizar são coisas maravilhosas. Ver quem a gente ama sorrindo, feliz e conquistando o mundo é tão satisfatório. Faz bem pra nossa alma e pra nossa própria existência. É difícil quando, num piscar de olhos, tudo isso fica pelo caminho. Quando, do nada, tudo se transforma em lágrimas e numa constante batalha pra se recuperar da surra que uma perda tão repentina provoca na gente.


Poucas pessoas encaram a morte com naturalidade. Ou, talvez, com menos dificuldade. Gente assim é mais evoluída. Eu ainda não sou tanto. E sofro um bocado por ser assim, sobretudo, porque meu trabalho me coloca em contato com dores e histórias de todos os tipos.

Parafraseando um trecho da música de Ana Vilela, "a vida é trem bala, parceiro". E como é. Isso me faz pensar que não há outro jeito a não ser seguir em frente fazendo hoje o que só o hoje nos permite fazer. Dizendo mais "eu te amo". Tentando ser melhor. Orando mais. Pedindo a Deus que nos conceda paz e proteção na luta entre o bem e o mal. Entre a vida e a morte.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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