Hoje, sim! Hoje, sim!
De mochila nas costas, parei em frente à porta do camarim. A resenha era fortíssima. Cléber Machado, Silvio Luiz e Mylena Ciribelli conversavam. Algumas oportunidades, realmente, são únicas.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
Era fim de plantão num domingo. Eu já estava indo embora quando, do corredor, ouvi uma voz inconfundível que vinha do camarim. Era Cléber Machado, recém-chegado à Record. Quem me conhece, sabe, quantas oportunidades já perdi de ter uma foto com pessoas que admiro. Preciso estar muito à vontade pra isso e a pessoa, de preferência, sozinha. Mas, dessa vez, não dava pra fingir que eu não estava perto de um dos narradores mais respeitados do País.
De mochila nas costas, parei em frente à porta do camarim. A resenha era fortíssima. Cléber Machado, Silvio Luiz e Mylena Ciribelli conversavam sobre os estilos de narração. Ouvi, por alto, Silvio Luiz comentando sobre o desafio de narrar uma partida pela internet, geralmente, desbravada por gerações mais novas. Cléber reforçava a importância do amigo para o jornalismo esportivo, independentemente da plataforma.
Com um copo de café na mão, Cléber Machado se preparava para a estreia na Record. Aquele seria o primeiro jogo da final do Paulistão 2023 e a notícia da contratação dele estremeceu o noticiário ao longo da semana. Me aproximei do lendário Wilson Ribas, editor-chefe e uma espécie de "relações públicas" da emissora (esse título é por minha conta), que estava cuidando de todo o direcionamento do mais novo colaborador da Barra Funda.
"Will, quero tirar uma foto com o Cléber", sussurrei no ouvido dele. Wilson balançou a cabeça em tom afirmativo enquanto registrava aquele encontro entre Cléber, Silvio e Mylena. Ao deixar o camarim em direção ao estúdio de onde narraria o jogo entre Água Santa e Palmeiras, me apresentei, rapidamente, e pedi a foto.
"Hoje, ele está cobrando mais barato pela foto", brincou Mylena Ciribelli, enquanto eu me ajeitava na pose ao lado de Cléber. Gostaria de ter conversado por, pelo menos, cinco minutos com ele, mas nosso contato durou menos de um minuto. Cléber Machado precisava ajustar os preparativos para a transmissão, que começaria em menos de uma hora.
Algumas oportunidades, realmente, são únicas. Tenho aprendido que é preciso percebê-las e agarrá-las. Era só uma foto, mas o que ela representa diz muito sobre a importância de aproveitar uma chance. Talvez, eu nem veja mais o Cléber Machado, mas aquele encontro rápido ficou registrado. Sempre que vejo algum nome importante do jornalismo ou da televisão me lembro de onde vim e agradeço por ter chegado até aqui.
O que tenho de idade, Cléber Machado tem um pouco mais só de narração esportiva. Ou seja, cresci, assim como milhares de brasileiros, ouvindo a voz do futebol e de tantas outras modalidades fazendo história na TV. Quando é que eu poderia imaginar que, um dia, estaria na mesma empresa que ele? Nunca.
Situação semelhante passei, recentemente, com o jornalista Heródoto Barbeiro. Fazia tempo que o via caminhando pelos corredores da Record. Sempre de paletó, gravata, calça jeans e tênis não é difícil encontrá-lo. Heródoto é um dos maiores nomes do jornalismo, com passagens incríveis pelos principais meios de comunicação do Brasil. É autor de livros que li na faculdade. Depois de adiar uma foto por tantas vezes, certo dia aproveitei que ele estava sozinho e o parei no corredor.
"Heródoto, sou repórter do Balanço Geral, faz tempo que vejo você passando por aqui, mas nunca tive coragem de abordá-lo. Sou seu admirador e o estudei na graduação", disse, já com o celular em mãos. Aí, completei: "Posso tirar uma foto com você?"
Rapidamente, ele disse que sim. Mais um encontro relâmpago, mas muito significativo pra mim. Vários outros aconteceram com diversas personalidades, mas acabei travando e não aproveitei a curta distância. Uma vez, peguei o elevador com o Domingo Meirelles, famoso por ter apresentado o temido "Linha Direta", na Globo. Eu, simplesmente, fiquei sem reação e só consegui dizer um simples “bom dia”. Me arrependo até hoje.
É algo interessante de pensar. Muitas vezes, pessoas que acompanham o nosso trabalho fazem questão de pedir uma foto, um vídeo, um abraço ou um aperto de mão. Entendo todo esse encanto porque, mesmo trabalhando em TV, eu sinto a mesma coisa diante de quem admiro ou só vejo pela tela. Pensar que até pouco tempo essa realidade era muito distante pra mim me faz acreditar – sem entrar no mérito da religião – que, de fato, Deus não coloca em nosso coração um desejo ou um sonho que Ele não possa realizar.
Talvez, eu ainda perca algumas fotos com "gente importante" na vida. Mas, naquela tarde, quando ouvi, de longe, a voz do Cléber Machado fui tomado por uma coragem gritante que dizia: "Hoje, sim! Hoje, sim! Hoje, siiimm!"
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