O dia em que eu 'sumi' no abraço do Canuto
Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que, um dia, caberia nesse "abraço de urso"
Conversa de Repórter|Lucas Carvalho, do R7 e Lucas Carvalho
Ele é repórter e eu também sou. Mas aquela conversa jamais seria de igual pra igual. Nem que eu quisesse, daria pra fingir costume. Afinal, ver o Márcio Canuto, ali, na minha frente era muito mais do que, um dia, passou pela minha cabeça.
O jornalismo ainda era um sonho distante e trabalhar em TV nem estava nos meus planos. Mas eu me lembro de ficar impressionado toda vez que aquele repórter grandão entrava “gritando” no jornal com uma voz forte e rouca, inconfundível.
O jeito irreverente, na contramão do padrão Globo de jornalismo, tomava conta da televisão e fazia dele próprio um meme numa época em que o termo nem existia. Era uma figura cativante.
Com o tempo, fui conhecendo mais sobre o Canuto à medida que meu interesse pela profissão ia crescendo e, naturalmente, começava a me simpatizar por outros profissionais da área. O que eu nunca imaginei é que, um dia, teria a chance de conhecer o Canuto, pessoalmente, sendo um colega de trabalho.
Pois bem. Essa chance veio porque, paralelamente às minhas funções na RECORD e aqui no R7, eu apresento um podcast com a minha namorada. Tem sido uma experiência interessante dividir a mesa com tantos convidados especiais. O Canuto foi um deles.
Conseguir levá-lo ao programa foi um verdadeiro desafio diante da agenda sempre lotada. Mas desde o primeiro contato que fiz, Canuto foi extremamente respeitoso e simpático.
No dia da gravação do episódio, providenciei o transporte do Canuto até o estúdio. Era uma sexta-feira de trânsito caótico em São Paulo (pra variar). Eu monitorava minuto a minuto. E, confesso, que a ansiedade bateu forte quando o interfone tocou o anunciando.
"Caps Lock humano", certamente, é o rótulo que mais combina com ele. Canuto é intensidade pura. É aquela pessoa expansiva, que nunca passará despercebida. Antes mesmo de deixar o elevador, já era possível ouvir a voz dele ecoando pelo corredor. O homem é comunicador nato.
Ao chegar no estúdio, duas exigências: banheiro e café. O "abraço de urso" veio só depois disso. E que abraço apertado, gente. Um abraço que foi capaz até de quebrar as costelas do Galvão Bueno. Por sorte, escapei ileso.
Canuto é bom de conversa. Antes mesmo de começarmos a gravar, já tínhamos um podcast pronto de tanta história que ele havia contado. Aos 70 e poucos anos, o espírito sempre jovem o torna um “molecão”, inimigo da tristeza.
Márcio Canuto parece incansável. Ele está sempre ligado, falando rápido, na velocidade 2x do WhatsApp. Voz marcante, dois metros de altura, gestos únicos e aquela boa e velha mania de valorizar o contato humano. Isso tudo faz do Canuto alguém que dá vontade de ter por perto.
Depois que gravamos nosso episódio, fui com ele até a calçada pra esperar o carro que eu tinha chamado pra levá-lo de volta. Ali, veio mais uma demonstração do quanto o homem é popular. Quem o via pela frente pedia uma foto. Já do lado de fora, enquanto conversávamos, um homem, caminhando devagar, o avisou e gritou: "Canuto, sou seu fã!".
Carinhosamente, ele acenou e correspondeu o gesto. O mesmo aconteceu quando o motorista chegou pra pegá-lo. "Meu Deus, quanta honra", disse. Eu brinquei, dizendo: "cuida bem do homem". Ele sorriu.
Algumas oportunidades trazem uma realização inexplicável. Eu ainda fico deslumbrado – no sentido mais nobre da palavra – com uma experiência desse tipo: a de estar perto e, mais do que isso, poder conversar com alguém de tamanha relevância para o que escolhi fazer, profissionalmente.
Se eu pudesse voltar uns dez anos no tempo pra falar com aquele inexperiente repórter, recém-formado, no interior de São Paulo, eu diria pra ele: "acredite, rapaz, você vai se surpreender com as histórias e com as experiências que terá pra contar um dia".
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