Pra qual estúdio eu volto?
Televisão, ao vivo, sempre será uma caixinha de surpresa. Quem se dispõe a ficar diante de uma câmera assume, todos os dias, o risco de cair em alguma cilada. Muitas vezes, do nosso próprio cérebro.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
Sábado passado cometi uma gafe, ao vivo, no Fala Brasil. Eu estava em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, noticiando a morte de um adolescente, de 17 anos, que reagiu a uma tentativa de assalto porque achou que a arma do criminoso fosse de brinquedo.
No fim da minha participação, troquei o nome dos programas. Em vez de dizer "voltamos ao estúdio do Fala Brasil", devolvi falando: "voltamos ao estúdio do Hoje em Dia". Quando eu vi, já tinha soltado. Meio desconcertado, ainda consegui pedir perdão e corrigir a falha. Alguns colegas brincaram dizendo que, pelo menos, não citei nenhum programa da concorrência.
A confusão foi porque, habitualmente, durante a semana a deixa pra gente devolver pro estúdio é outra. A gente, simplesmente, diz: "Sérgio, Mariana", que são os titulares do jornal. No sábado, como são três apresentadoras diferentes, a regra muda e a frase padrão é idêntica a do Hoje em Dia.
Tem erro que, simplesmente, ocorre e não tem muita explicação. Na hora do ao vivo, muita coisa pode acontecer. Dias atrás, também no Fala Brasil, em vez de dizer: "o prazo termina no dia 9 de dezembro deste ano", eu disse: "o prazo termina no dia 9 de dezembro deste mês". Nada a ver. Percebi na hora? Óbvio que não.
Repórteres e apresentadores de TV, quase sempre, viram meme por causa de alguma gafe. Quem não se lembra do famoso: "seis e ônibus", do Carlos Tramontina, ao vivo, na Globo? Em alguns casos, jornalistas já trocaram o nome da emissora, disseram alguma palavra errada, se perderam no raciocínio, esqueceram texto ou até falaram palavrão sem saber que estavam no ar.
Televisão, ao vivo, sempre será uma caixinha de surpresa. Quem se dispõe a ficar diante de uma câmera assume, todos os dias, o risco de cair em alguma cilada. Muitas vezes, o nosso próprio cérebro é quem coloca a gente em saia justa. Sustento que algumas situações, simplesmente, não se explicam. Mas é fato que a nossa cabeça não é uma máquina e pode, sim, dar pane.
A adrenalina de um jornal que está no ar envolve fortes emoções. É a grande quantidade de textos, muita informação chegando, gente que não acaba mais falando ao mesmo tempo, o deslocamento da equipe de um lugar pro outro, a força do hábito, facilmente, exposta quando muda a rotina, a pressão do relógio e de quem o controla, sem contar as inúmeras falhas técnicas que podem colocar tudo a perder.
Não sei você, mas eu não saio de casa, todos os dias, pra errar. Sofro de um mal chamado perfeccionismo. É claro que as falhas ensinam, mas estamos direcionados a querer entregar sempre o melhor. No fim de semana, quando, apenas, troquei o nome dos programas, saí do ar bem chateado. Embora eu tenha dado a informação correta no link, ter errado no final me jogou lá pra baixo.
Depois que passa, o assunto vira motivo de piada. Vários colegas mandaram mensagens e me zoaram pessoalmente. O erro, apesar de difícil de aceitar, serve pra ensinar, pra deixar a gente mais atento e direcionar o nosso trabalho para um rumo diferente. O importante é não querer errar, mas, se errar, entender que a consequência de uma falha pode trazer acertos maiores mais tarde.
Entre tantas brincadeiras de colegas e amigos, a frase que mais fez sentido pra mim foi dita por um companheiro de equipe logo depois que entrei no carro de reportagem: "Relaxa, Luquinha. Só erra quem trabalha".
Vou continuar errando.
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