Quando Gugu fez o Brasil chorar
Jamais pensei que, um dia, participaria do velório dele. Que aquele garoto, de alguns anos atrás, que sonhava em ser jornalista, teria no currículo uma das coberturas mais difíceis da TV brasileira.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
A notícia da morte do apresentador Gugu Liberato deixou o Brasil inteiro sem reação. Naquela sexta-feira à noite, eu tinha acabado de chegar à casa dos meus pais, em Araçatuba, depois de viajar por mais de oito horas. Era o meu fim de semana de folga e, coincidentemente, meu irmão tinha feito aniversário um dia antes.
Entre uma conversa e outra com a minha mãe, na sala, olhamos, curiosos, pra televisão. A programação da Record tinha sido interrompida pelo plantão do jornalismo. E, cá entre nós, toda vez que isso acontece, é natural que a gente se assuste. Em geral, todo plantão traz, sempre, alguma notícia pesada.
E, aquela, era mesmo. Com a voz embargada e o semblante abatido, a jornalista Adriana Araújo pediu licença pra comunicar o que ninguém esperava: a confirmação da morte cerebral do apresentador Gugu, que havia sofrido um acidente dentro de casa, durante a semana, em Orlando, nos Estados Unidos. Apesar da gravidade do caso, todo mundo esperava que o quadro fosse revertido.
A gente já vinha recebendo, em grupos de mensagens, informações desanimadoras. Mas, na real, ninguém queria acreditar. Lembro que minha mãe e eu olhávamos um pro outro, balançando a cabeça em sinal de negação. A repercussão foi, praticamente, instantânea na internet. Embora eu estivesse de folga, sabia que a redação estava de pernas pro ar. Afinal, uma cobertura desse tipo é sempre exaustiva. E, no caso do Gugu, além da importância dele pra televisão brasileira, o comunicador era uma das principais estrelas da Record, o que tornava a abordagem ainda mais sensível.
Como Gugu estava nos Estados Unidos quando caiu e bateu a cabeça, a chegada do corpo ao Brasil demoraria um pouco. Assim, quando voltei pra São Paulo, na segunda-feira, ainda não havia nenhuma novidade sobre o trâmite. Todo o processo levou quase uma semana.
Naquela quinta-feira, minha missão seria acompanhar a movimentação direto do aeroporto internacional de Campinas, no interior paulista. A Record dedicou a programação inteira, desde a confirmação da morte, à divulgação de informações sobre aquela tragédia.
O Balanço Geral Manhã daquele dia começou especial. Todos nós estávamos mobilizados. E eu, particularmente, tentava sincronizar meus pensamentos. Tentava, ali, conciliar o papel de repórter com a minha condição de fã. Afinal, sou parte da geração que cresceu vendo Gugu brilhar.
Às 5h12 da manhã entrei no ar com as informações sobre o traslado do corpo de Gugu Liberato. A chegada do avião, que traria o apresentador para o Brasil, estava prevista para às 6h da manhã. Eu acompanhava o trajeto da aeronave por meio de um aplicativo. Aquele voo, traria, também, os familiares do animador. Entre eles, a mãezinha dele, dona Maria do Céu, de 90 anos.
Era uma sensação diferente pra mim. Aquela cobertura tinha um peso diferente. Uma responsabilidade a mais. Eu estava falando de um dos maiores comunicadores da história da televisão. Jamais pensei que, um dia, participaria do velório dele. Que aquele garoto, de alguns anos atrás, que sonhava em ser jornalista, teria no currículo uma das coberturas mais difíceis da TV.
No aeroporto, tentávamos buscar um ângulo em que fosse possível registrar a chegada do avião. Dividíamos o espaço com outros colegas repórteres e cinegrafistas. Ao mesmo tempo, alguns fãs chegavam e perguntavam pra gente qual seria o melhor lugar pra acompanhar tudo aquilo de perto.
Por volta das 6h da manhã, o avião com o corpo de Gugu desembarcou em Viracopos. Confesso que arrepiei. Enquanto o comandante Uan Hamilton mostrava, do helicóptero, o momento em que a caixa que transportava o apresentador era retirada da aeronave, tentávamos, por terra, apurar como seria a sequência do processo burocrático. Meus colegas, da redação, também me abasteciam com informações. Em uma das minhas entradas, ao vivo, me lembro que eu estava falando e, ao mesmo tempo, recebendo outros detalhes para divulgar no improviso.
Às 8h30 da manhã, o corpo de Gugu deixou o aeroporto rumo à Assembleia Legislativa de São Paulo, onde o velório do apresentador aconteceria. A família acompanhou o carro funerário junto dos policiais rodoviários. De longe, avistamos o comboio saindo e, rapidamente, pedimos prioridade para que pudéssemos entrar ao vivo. Naquela altura, eu já estava posicionado num outro ponto. Minha visão não era, totalmente, privilegiada. Precisei interpretar a cena ao mesmo tempo em que narrava a saída dos carros. Não era um cortejo propriamente dito. Desde sempre, a família pediu para que os fãs não seguissem o trajeto e esperassem o momento da homenagem aberta ao público.
O velório estava previsto pra começar no início da tarde. Naquele dia, encerrei minha jornada, mas a continuaria no dia seguinte, acompanhando parte das homenagens e o momento mais emocionante: o sepultamento de um dos artistas mais importantes do Brasil. Eu, sinceramente, custava a acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. De verdade, mesmo. Pra mim, tão surreal quanto a morte do Gugu, era estar participando daquela cobertura marcante pro País.
Na semana que vem, eu volto pra continuar essa nossa conversa. Ainda tenho muita coisa pra dividir, aqui, com vocês. Quero contar como foi a primeira vez que vi Gugu, pessoalmente, e, ainda, os bastidores e as minhas sensações durante a despedida do apresentador. A gente se fala na próxima quinta-feira. Até lá.
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