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Conversa de Repórter

São Paulo pra iniciantes

Desde que vim ser repórter aqui, me sinto testado todos os dias. Mas lá no começo, senti o frio na barriga me envolvendo de uma hora pra outra.

Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho

São Paulo me desafia todos os dias
São Paulo me desafia todos os dias

Chamar São Paulo de terra das oportunidades pode até parecer meio clichê. Mas é real. Há quase três anos eu sou prova disso. Cheguei um caipira, perdido nessa selva de pedras. Hoje, sou o mesmo caipira, mas adotado pela maior cidade do País. Talvez, um pouco mais habituado com o ritmo frenético das ruas da capital.

São Paulo fez aniversário na última terça-feira. Parei pra pensar sobre as coisas que já vivi por aqui. É muito comum as pessoas me perguntarem qual foi minha maior dificuldade ao deixar o interior paulista. Acho que a maior delas foi, realmente, encarar a metrópole. Desde que vim ser repórter aqui, me sinto testado todos os dias. Mas lá no começo, senti o frio na barriga me envolvendo de uma hora pra outra.

A cidade, por si só, é tão desafiadora que, assim que cheguei, tive a tarefa de falar sobre ela mesmo não a conhecendo. Imagine só. Passei a vida toda no interior, onde, inclusive, comecei a minha carreira. Num piscar de olhos, eu me via percorrendo ruas e avenidas, divididas e caracterizadas por norte, sul, leste e oeste. Até hoje é assim, no começo era muito mais. Eu passava o tempo todo perguntando para cinegrafistas e auxiliares: "onde estamos?". Ou, então: "Aqui é zona o quê?".

Quando fui contratado, vim pra ser repórter do SP no Ar, um jornal que tinha a proposta de mostrar a cidade. Dos problemas aos pontos turísticos, a ideia era falar a linguagem do paulistano. Dentro de mim, não faltava entusiasmo. Ao mesmo tempo, eu me perguntava se daria conta de ser tão grande quanto São Paulo é. Tinha receio de não me acostumar com o ritmo ou com o desafio de falar sobre o que não conheço.


Marinheiro de primeira viagem, um dos principais desafios, em SP, foi entender os problemas da cidade
Marinheiro de primeira viagem, um dos principais desafios, em SP, foi entender os problemas da cidade

Minhas primeiras pautas na capital paulista foram sobre transporte público. Quantas vezes embarcamos em trens, metrô e ônibus pra mostrar a rotina sofrida do povo? E quantas vezes me confundi com os nomes das estações e as cores que definem cada linha? No ar, eu tinha que parecer seguro. Eu tinha que mostrar que sabia. Sempre dava certo? Não. Às vezes, não.

Uma vez, entrevistando as pessoas, ao vivo, perguntei pra um passageiro: "Qual estação é essa aqui que nós estamos?". Assim que ele me respondeu, eu insisti: "E pra onde você vai? Quanto tempo de viagem?". Com cada resposta, eu tentava me situar e entender a dimensão daquilo tudo.


Um colega da TV, certa vez, chegou em mim e disse: "Vou te passar o mapa da cidade de São Paulo com todos os nomes de estações e regiões pra você. Não pega bem fazer parecer que você não sabe". Eu gostei da preocupação dele comigo, mas ao mesmo tempo não me senti envergonhado por ter perguntado, ali, ao vivo onde estava. Eu tento ser perfeito no que faço por uma questão de autocobrança. Só que mostrar ao telespectador que nem tudo a gente sabe, também faz parte do processo. Jornalista não conhece tudo. Jornalista conhece um pouco de tudo. E o que ele não sabe, ele aprende.

Já teve vez de eu esquecer o nome da rua onde eu estava e ter que perguntar, ao vivo, para o cinegrafista. Há mal nisso? Não acho. Pelo menos, hoje, não mais. O André Azeredo, que, na época, apresentava o SP no Ar conhece a cidade como poucos. E olha que ele é de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Mas os anos por aqui fizeram dele uma referência no jornalismo de prestação de serviço. Eu me espelhava muito nele pra ficar afiado. Inclusive, quando ele me colocava em saia justa. Claro que nunca foi por mal. Mas ele era detalhista. Gostava de saber o nome da rua, bairro e, às vezes, até o número. Isso me forçava a ser ainda mais observador. E é só observando que a gente aprende, realmente.

São Paulo: tão plural e, ao mesmo tempo, singular
São Paulo: tão plural e, ao mesmo tempo, singular

Há quase três anos morando e trabalhando em São Paulo, vejo o quanto mudei e melhorei. Vejo, também, o quanto ainda preciso mudar e melhorar. Aqui, não tem zona de conforto, por mais que o trampo seja o mesmo. A gente não tem rotina. A gente vive em lugares diferentes, em situações desafiadoras, em contextos completamente opostos. Eu sempre vou achar um baita desafio morar e entender a capital. Mas eu penso em seguir sempre adiante, afinal, aqui estão os meus sonhos. Porque São Paulo é assim. Não são só os perrengues que a definem. São metas, expectativas, realizações e oportunidades. Quem chega aqui, do interior, como eu, até se sente um grãozinho de areia perdido na imensidão. Só que com o passar do tempo, a gente aprende a se enxergar maior, mais forte e seguro. A vida, aqui, parece uma montanha-russa, cheia de altos e baixos. Mas é nesse vai-e-vem que o coração da gente toca.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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