Ser repórter e ser humano
Os bastidores da vida pessoal de um repórter e o que há por trás do terno, da gravata e do microfone que empunho todo santo dia.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
Pode passar o tempo que for. O peito vai continuar apertando. Os olhos vão, sempre, marejar. E uma lágrima ou outra, inevitavelmente, vai escapar. Sempre que visito minha família, no interior de São Paulo, a volta é dolorosa. A começar pela imagem da minha mãe, abraçada ao meu irmão, esperando o ônibus partir. Meu pai, turrão como sempre foi, costuma mandar um beijo e junta as mãos como sinal de oração assim que o busão começa a sair da plataforma.
Em poucos minutos, estão os três acenando enquanto os vejo pela janela, ficando pequenininhos. Há cinco anos, pra fazer o que eu faço, diariamente, tive que sair da minha zona de conforto. Tive que fazer escolhas e renúncias. E são esses bastidores que eu gostaria de compartilhar, hoje, com você. Os bastidores da vida pessoal de um repórter e o que há por trás do terno, da gravata e do microfone que empunho todo santo dia.
Todo mundo, em algum momento, precisou abrir mão de alguma coisa pra conseguir outra. Mas deixar minha família em Araçatuba, a 500 km de São Paulo, nunca vai ser uma escolha. Sempre será consequência da realização de um sonho que eu alimento desde criança. Não sou o único, é verdade. Tenho colegas que deixaram pai e mãe em lugares, infinitamente, mais distantes por conta do trabalho. O foco da conversa, aqui, é só dividir com você como é, pra mim, lidar com isso. Com esse desafio à parte.
Há cinco anos, num domingo especial de Dia das Mães, a minha me ajudava a arrumar as malas pra Bauru. Deixei Araçatuba e o colo dela, exatamente, na data que a vida toda eu passei ao lado dela. Depois disso, em quase todos os anos não consegui estar, pessoalmente, com ela por conta dos plantões. Assim como nem sempre foi possível estar em aniversários e outras datas importantes, como Dia dos Pais. Quando chega o fim do ano, só é possível estarmos juntos no Natal ou no Ano Novo, dependendo da minha escala. Nunca nos dois.
Eu devo confessar que, por vezes, me questionei sobre isso. Ainda hoje, me questiono quando a cabeça está a mil. Mas minha família – sobretudo, minha mãe – nunca me permitiu voltar atrás na escolha que fiz pra minha vida profissional. Da rádio improvisada, que montei na escola, passando pelo jornal impresso em sulfite que eu escrevia, até o início da faculdade de jornalismo, a estreia na televisão regional, as portas que Bauru me abriu e, finalmente, a chance de estar entre os grandes na Record, em São Paulo, foi um caminho árduo, cheio de desafios.
Então, a certeza de que tudo está valendo a pena e o esforço diário para que continue valendo me reestabelecem a cada ida e vinda. Essa quebra do cordão umbilical sempre foi uma barra pra mim. Mas o tempo, a experiência e outros exemplos de sucesso me permitem lidar melhor com essa condição. Já entendi que é algo pra ser administrado dentro de mim e que, às vezes, vai estar tudo bem, mas, às vezes, não vai estar. A vida é, justamente, sobre isso.
Toda vez que volto de Araçatuba, assim como foi no último fim de semana, dar tchau fica muito mais difícil. O coração aperta, as lágrimas rolam, mas tudo vai se acalmando quando me lembro de que, pra tudo, existe um propósito e é preciso ter coragem pra viver os planos de Deus. Quem dera se a gente pudesse ter tudo ao nosso controle. Tudo ao mesmo tempo. Se a gente não tivesse que tomar decisões tão difíceis, abrir mão disso pra ter aquilo. Se a gente pudesse, apenas, sorrir e nunca chorar. Se a gente não tivesse que lidar com a saudade, com a distância. Seria muito mais fácil viver. Ou, talvez, não. Talvez, seria só menos emocionante. Até porque, a vida que planejamos nem sempre é a vida que nos espera.
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