Um bando de loucos
Eu, palmeirense, mas pouco entendido no esporte, tive a missão de reportar a adrenalina dos torcedores numa noite que era só deles. O desafio era muito maior porque eu estava no início da minha carreira.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
Voltei no tempo depois de ser marcado nesse post.
O jornalista Bruno Maluly é meu amigo há mais de dez anos. Trabalhamos juntos no SBT, em Araçatuba, no interior de São Paulo. Tenho imensa gratidão pela família dele, que me abriu as portas para o telejornalismo.
O vídeo compartilhado por ele, nas redes sociais, é especial pra gente por motivos diferentes: Bruno, corintiano apaixonado, teve a chance de apresentar um programa histórico após o Timão ser campeão da Libertadores, em 2012. Eu, palmeirense, mas pouco entendido no esporte, tive a missão de reportar a adrenalina dos torcedores numa noite que era só deles. Mas como se não bastasse, o desafio era muito maior porque eu estava no início da minha carreira.
O ano era 2012, eu ainda cursava jornalismo, não era Lucas Carvalho e, sim, Lucas Matheus, e vivia, diariamente, o frio na barriga de um jovem iniciante. Eu sentia uma responsabilidade enorme nas costas, uma necessidade de me superar, de agradar, de mostrar minha versatilidade.
Vendo a lembrança que o meu amigo publicou, a referência carinhosa que ele fez ao meu trabalho e assistindo ao vídeo do programa, com a reportagem, revivi momentos agradáveis de uma década atrás. Toda vez que pintava alguma pauta de esporte pra fazer, eu corria na internet pra buscar referências. O programa de esportes do SBT surgiu, exatamente, numa época em que o jornalismo esportivo passava por uma transformação na linguagem.
Eu me lembro que passava horas vendo reportagens de jogos, observando o texto, o casamento das palavras com a imagem, a abordagem com a torcida, o jeitão descolado de narrar... Fui para aquela cobertura “armado” até os dentes pra fazer o melhor possível.
É interessantíssimo falar sobre isso porque mesmo não sendo corintiano nem fanático por futebol, o clima da final entre Corinthians e Boca Juniors pela Libertadores me contagiou do início ao fim. É muito fácil criar quando o ambiente se torna convidativo, quando a galera participa, quando tem alegria, descontração, energia.
O texto esportivo permite – hoje, muito mais – fugir da formalidade. Aliás, é isso que ele exige: uma reportagem muito mais comportamental do que informativa. Ou seja, os detalhes quem rondam a informação são os ingredientes mais importantes. Uma lágrima no rosto do torcedor, as mãos cruzadas em sinal de oração, o olho vidrado na televisão, a criança de colo uniformizada, um grito explosivo do mais fanático... tudo isso vira inspiração.
Mesmo aprendendo, sem tanta confiança ainda, fiz aquela reportagem com colegas competentíssimos, que tornaram o trabalho mais fácil. É engraçado, hoje, dez anos depois, rever o vídeo. Minha autocrítica insiste em focar no que eu poderia ter feito diferente, mas meu lado um pouco menos carrasco sente um orgulho imenso do melhor que eu pude oferecer naquele momento. Meio nostálgico, eu sei, mas reviver essas memórias me dão um baita combustível. Cada fase da nossa carreira traz um desafio novo que, a princípio, sempre parece difícil, impossível.
Difícil até pode ser mesmo. Mas impossível só será se a gente não tentar. Venho tentando há mais de uma década. Seguirei assim. Você me emocionou, Bruno. Obrigado por me lembrar disso.
Veja a reportagem completa a partir de 9'40".
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.