Diante dos relacionamentos interpessoais, estamos em uma fase difícil e, hoje, falaremos sobre o divórcio. Por um lado, deparamos com a superficialidade das relações-relâmpago, o vazio existencial e a banalização dos sentimentos e, por outro, a toxidade das relações, trasbordando possessividade, violência e abuso em todos os níveis. Casos de assassinato de mulheres e homens por ex-cônjuges motivados por vingança após o término têm, infelizmente, ilustrado os noticiários diariamente. O divórcio é uma consequência do desgaste das relações e de uma série de outros fatores que levam as pessoas a sentir infelicidade juntas, e geralmente é uma luz no fim do túnel daqueles que decidem recomeçar a vida após um período conturbado e um término. Ter consciência de que o divórcio não é o fim, mas o recomeço, é ter clareza e discernimento acerca dos ciclos da vida e da nossa história. Histórias começam e terminam, pessoas vêm e vão, mas nós permanecemos. Por isso, cuidar de nós mesmos em primeiro lugar é a única forma de seguir adiante com sabedoria e integridade. Contudo, alguns casos nos mostram que nem todos pensam dessa forma, e o extremo sofrimento daqueles que não elaboraram seus sentimentos e afetos tem levado algumas pessoas a cometer suicídio. Acreditamos que isso também aconteça em virtude da perda de identidade que ocorre durante os relacionamentos, e, quando há uma ruptura, a pessoa que está desconectada e desidentificada dela mesma não suporta a notícia do fim, pois não enxerga outras possibilidades de vida sem o outro e sem aquela relação. Há uma corrente da psicanálise que diz que uma pessoa que comete o suicídio em casos de separação tem o desejo de punir o outro, na medida em que exerce o controle da situação, imputando uma eterna sensação de culpa. Independentemente de teorias e correntes, o suicídio é um ato extremo de tristeza, angústia e insatisfação, e toda a sociedade precisa estar alerta aos sinais de pessoas próximas. Não podemos julgar os outros, e cada caso é um caso, mas precisamos urgentemente rever a forma de lidar com nossos conflitos — seja com o outro, seja com a gente mesma. Vivemos em um momento histórico marcado pelo egoísmo. As pessoas atualmente não aceitam ser contrariadas. Diante do término, alguns decidem acabar com a vida do outro na tentativa de que sua insatisfação e contrariedade não produzam efeitos. Esse traço egoico é a causa de todos os problemas no mundo, e se o egoísmo fosse substituído pela fraternidade, certamente todos os problemas estariam no caminho de ser resolvidos. Isso inclui os problemas durante e após um divórcio. Por isso, durante o processo de separação, é imprescindível trabalhar o autoconhecimento, fazer terapia, ter uma rede de apoio. E, caso a pessoa não tenha condições de pagar uma terapia e não tenha pessoas próximas para conversar, é possível buscar ajuda em grupos de apoio como o CVV (Centro de Valorização da Vida) — pelo número nacional 188 —, formado por voluntários que já ajudaram muitas pessoas em mais de 60 anos de trajetória. Além disso, olhar para os desafios como uma oportunidade de crescimento nos ajuda, na medida em que essa consciência nos conecta ao desenvolvimento humano e a valores essenciais como a empatia, o respeito e a gratidão. Apesar dos problemas, não devemos tratar o outro como inimigo, mas como alguém que fez parte da nossa vida e que contribuiu para chegarmos até aqui. Não temos controle do que acontece, mas temos controle sobre como lidar com o que nos acontece. Tratar o divórcio com aceitação e maturidade é uma escolha sensata e saudável. Recentemente, fomos surpreendidos com a morte da ex-jogadora da seleção brasileira feminina de vôlei e campeã olímpica Walewska Oliveira, de 43 anos, que teve a causa de sua morte revelada pela Secretaria de Segurança Pública: óbito por conta de uma queda da área de lazer do seu condomínio, que fica no topo do prédio em que ela morava. A polícia investiga a possibilidade de suicídio. Segundo o boletim de ocorrência, a ex-atleta enviou uma mensagem ao marido para falar sobre os problemas conjugais e a decisão dele de se divorciar após 20 anos de união, minutos antes da queda do 17º andar, onde subiu sozinha com uma garrafa de vinho, uma taça e uma folha de papel na qual teria escrito uma carta para a família. Segundo o depoimento do marido, o casal estava em crise fazia mais de quatro anos. Walewska já havia tentado o suicídio outra vez, e ele teria inclusive avisado o fato ao pai dela. Em nosso projeto @divorciandos, falamos sobre como viver o divórcio com leveza. Isso não quer dizer que seja fácil, mas queremos mostrar às pessoas que é possível, por meio de uma postura de maturidade, empatia e inteligência emocional, que os impactos emocionais e jurídicos do divórcio sejam minimizados, além de facilitar o caminhar daqueles que se separam rumo a uma vida mais harmônica e pacífica. A triste notícia desta semana, que parece estar intimamente ligada ao divórcio, nos consternou e nos motivou a falar sobre o que houve, como um alerta e uma forma de contribuir para com as pessoas para que histórias com finais tristes, como essa, não se repitam. Por mais desafiador que seja passar por um divórcio, a fase difícil passará, como tudo na vida, e temos que lembrar que o fim de uma relação é só o fim de um capítulo, mas não o fim da nossa história — que poderá ter muitos capítulos novos e felizes, se assim desejarmos.