Aceitar ou negar até a morte?
É necessário combater o negacionismo climático que pode colocar em risco famílias e comunidades

Tomé, o apóstolo incrédulo já dizia: “preciso ver para crer”. Mas o que dizer àqueles que, mesmo diante de tantas evidências científicas de que o aquecimento global é uma realidade provocada pela ação humana, insistem em não acreditar nisso? Admitir que a temperatura do planeta está aumentando e, por outro lado, rejeitar qualquer política de enfrentamento coletivo que possa soar como ameaça ao conforto financeiro ou liberdade econômica de alguém parece um tanto contraditório, não? Mas é na base do negacionismo que muitas pessoas ainda reagem quando questionadas sobre as consequências das mudanças climáticas e seus efeitos em escala global.
O que o furacão Milton nos EUA e a catástrofe no Rio Grande do Sul têm em comum, além de serem fenômenos agravados pelas mudanças climáticas? Pessoas que se negaram a acreditar no potencial de destruição que ambos os fenômenos poderiam causar. Quantas pessoas desapareceram e até morreram por se recusarem a deixar suas casas em busca de um abrigo mais seguro? Contrariando ordens de evacuação pelas autoridades, como aquele homem que viralizou em uma rede social ao se recusar a deixar o próprio barco ancorado na Baía de Tampa, local em que o Milton tocaria o solo na Flórida.
O marinheiro que mora na embarcação ficou conhecido como “Tenente Dan”, o apelido é uma referência ao personagem de Gary Sinise em Forrest Gump.
E o que é pior, quantas outras milhares seguindo essa mesma ideologia do “isso só pode ser teoria da conspiração" estão deixando de contribuir para a redução de emissões dos gases poluentes que comprovadamente intensificam o efeito estufa e promovem o aquecimento do planeta?
Esperar pela água subir, pelo vento arrancar o telhado, pelo barco virar ou coisa pior pode ser arriscado demais quando nem mesmo as previsões do tempo conseguem mensurar, muitas vezes, o real tamanho do estrago.
Fazendo um outro paralelo, em meio a tantas mudanças no clima e alertas cada vez mais frequentes, como fica a nossa saúde mental? Sabemos que não é preciso estar na rota de um furacão para se ter a sensação de viver em sobressalto. É só olhar para o lado que vemos pessoas de todas as partes do mundo sofrendo pela falta de acolhimento, de informação e acima de tudo de medidas preventivas e intervenção do Estado. Veja na entrevista a seguir que sentimentos como a desrealização podem nos tirar o chão e literalmente nos causar mal-estar.
Denise Zimpek é membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre.