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Blog do Heródoto

Derrubem a estátua: o povo mostra que o antigo sistema político acabou

Parece, mas não é: alguns novos governos não esperam a fúria da população e, discretamente, retiram estátuas do ditador

Heródoto Barbeiro|Heródoto Barbeiro


Derrubar a estátua de um tirano é um grito de liberdade para o povo Imagem criada por IA via Freepik

As estátuas do ditador não conseguem se defender. Enquanto ele estava vivo, elas pululavam na maioria das praças públicas do país. É mais do que uma homenagem a um homem que governou com mãos de ferro e cometeu barbaridades em nome da implantação de um novo regime onde todos iriam viver melhor e em liberdade.

Nem que para isso fosse necessário mandar prender a oposição, mesmo quando uma ou outra voz tinha a coragem de discordar de suas decisões dentro do mesmo partido político.

Para isso existe uma polícia secreta bem armada e disposta a violar qualquer direito humano para manter o ditador no poder. Um instrumento que os ditadores de todas as eras aprenderam a usar é a delação secreta.

Não se sabe quem são os acusadores, mas os suspeitos são presos, encarcerados, julgados por tribunais espúrios e condenados a longas penas de prisão, quando não à morte. Algo semelhante à Inquisição católica, onde o delator ficava escondido atrás de uma porta no tribunal e só havia um buraco na altura da boca para que pudesse denunciar crimes reais e imaginários.


A justificativa do ditador é que o mundo vive uma guerra entre as nações revolucionárias e o imperialismo ocidental, representado pelos Estados Unidos. O partido do déspota usa de todas as formas possíveis de propaganda para consolidar o novo regime. Censura nos meios de comunicação, manipulação das assembleias que perdem autonomia e estão submetidas ao sabor do poder imperial.

O mesmo vale para os tribunais, sejam os primários, seja o Supremo Tribunal do país. Os livros didáticos escolares são usados como instrumento de uma verdadeira evangelização política e os mapas são “atualizados” com regiões e territórios que, teoricamente, deveriam fazer parte da mãe pátria.


O velho internacionalismo comunista desaparece, e só vale para as nações distantes onde existem grupos de comunistas que ainda acreditam no slogam de Marx e Engels, no Manifesto do Partido Comunista: Proletários de todo o mundo, uni-vos!!!

O inimigo é o capital, Wall Street, a City e a burguesia nacional aliada aos interesses imperialistas. Por tudo isso é preciso suportar o ditador, até que se estabeleça uma democracia de uma só classe social, e cultuá-lo com uma quantidade suficiente de estátuas em praças e jardins públicos.


O movimento popular cresce na medida em que a população começa a entender que tudo o que o ditador prometeu em vida não se concretiza. A maior parte da população vive abaixo da linha da miséria e anseia por liberdade. A saída é colocar o regime comunista abaixo e procurar alternativas na senda do capitalismo.

A derrocada contamina as nações que compõem a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Uma a uma saem do que Churchill chamou de “cortina de ferro”. O caso mais emblemático é a queda do muro de Berlim em 1989.

A limpeza interna vai até a derrubada das inúmeras estátuas do ditador Joseph Stalin. Elas são inúmeras e quase sempre a figura do georgiano está ao lado de Vladimir Lênin, o líder da revolução bolchevista de 1917. Populares armados de martelos e talhadeiras não dão folga ao concreto e pedra. Algumas são enlaçadas e puxadas por populares, como a de Saddam Hussein, em Bagdá.

Alguns novos governos não esperam a fúria da população e, discretamente, retiram estátuas do ditador, como a Geórgia, país onde nasceu Stalin. Ainda resta o museu dele na pequena cidade natal, um monumento histórico que deve ser preservado para que a humanidade possa ver com os próprios olhos até onde pode chegar o culto à personalidade de um tirano assassino.


Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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