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Joel Rennó Jr|O futuro do tratamento da depressão
Joel Rennó Jr

O futuro do tratamento da depressão

A depressão é uma doença complexa e heterogênea de causa multifatorial. Novos tratamentos são imprescindíveis para uma boa parte dos casos severos da doença.

Joel Rennó Jr|Do R7

Quem já sofreu na própria pele de depressão ou tem um familiar querido que vive tal drama sabe o quanto os tratamentos atuais visam apenas ao controle dos sintomas da doença. Em muitos casos, há um agravamento da doença ao longo dos anos de tratamento e as respostas terapêuticas podem diminuir consideravelmente.

A depressão tem múltiplos fatores causais ambientais que interagem entre si, incluindo os biológicos, psicossociais e ambientais. A psicofarmacologia é um dos pilares do tratamento, mas mudanças de estilo de vida além de psicoterapia e neuromodulação podem fazerA muita diferença também.

O grande sonho de consumo da psiquiatria é descobrir novos antidepressivos que possam reverter o processo de depressão no cérebro e não apenas controlar os sintomas. Como ocorre, por exemplo, quando alguém tem uma infecção de garganta pela bactéria Streptococcus e toma um antibiótico ficando curada.

Recentemente, estive uma reunião com o Professor de Psiquiatria Gerard Sanacora, da University of New York, um dos mais brilhantes estudiosos e pesquisadores de novos tratamentos em psiquiatria.


Para o sucesso dessa empreitada, precisamos conhecer a fundo os mecanismos fisiopatológicos da depressão, ou seja, suas causas biológicas e psicossociais.

Em linhas gerais, sabemos que o estresse tóxico aumenta os níveis do neurotransmissor glutamato (mensageiro químico cerebral) no conhecido sistema córtico-límbico do sistema nervoso central. Medicamentos, portanto, que protegem contra essa neurotoxicidade inibindo o receptor conhecido como NMDA (onde atua o glutamato) promovem um efeito antidepressivo significativo. Como grande exemplo, temos o anestésico Cetamina cujo primeiro estudo específico em psiquiatria ocorreu em 1973. Esse estudo iraniano publicado há quase 50 anos, vem sendo replicado em diversos centros e tal tratamento já foi aprovado recentemente pela FDA (Agência regulatória de Medicamentos dos EUA) para tratamento de depressão grave e refratária. Outro exemplo de um tratamento curativo e não paliativo pode ser decorrente do conhecimento advindo dos medicamentos Brexanolona e Zuranolona aprovados pela FDA para tratamento de depressão pós-parto (DPP). Aliás, tais medicamentos foram os primeiros aprovados especificamente para DPP e têm um efeito neuroplástico direto sobre o sistema gabaérgico modificando o mecanismos de ação da depressão e melhorando o prognóstico da mesma. Isso representa um grande avanço.


Hoje sabemos que em muitos pacientes deprimidos pode haver um processo neurodegenerativo ao longo do tempo. A tendência é que quanto mais tempo a pessoa fica com depressão, mais danos ocorrem no cérebro e as falhas terapêuticas tendem a agravar o quadro. Portanto, é importante que o tratamento além de regular seja feito de forma precoce e dentro de uma abordagem multidisciplinar.

Outro assunto controverso é a famosa “receita de bolo” que muitos livros de autoajuda com fins mercantilistas divulgam. A depressão é uma doença heterogênea e complexa que varia de pessoa para pessoa. Só agora estamos conseguindo medicamentos que realmente podem modificar o curso da doença. E por fim temos que deixar de lado visões simplistas e repletas de dogmas anticientíficos que só aumentam os preconceitos e estigma associados às pessoas com quadros mais graves e refratários aos tratamentos.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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