Após fusão com Azul, grupo que controla Gol quer se unir à chilena Sky
Ação estratégica do Grupo Abra envolve ainda a espanhola Wamos Air, considerada uma joia no mundo do leasing de aeronaves
Há um ano, Adrian Neuhauser assumiu o cargo de CEO do grupo Abra, holding dona da Avianca e da Gol. Meses antes, outro chileno, Manuel Irarrázaval, ingressou na empresa como CFO.
Em 2024, ambos estavam focados em expandir a plataforma do grupo, mantendo a estratégia traçada desde sua criação: constuir uma plataforma aérea em toda a América Latina, onde hoje suas principais marcas são a colombiana Avianca e a brasileira Gol, à qual se somou recentemente a espanhola de charter Wamos Air, com a intenção de fortalecer a conectividade com a Europa.
Embora o ponto alto do plano seja a saída da Gol do Capítulo 11 em meados do ano, em 2025 a empresa vem fazendo novos movimentos com a intenção de consolidar a plataforma Abra e ganhar forma para se tornar um player relevante no setor aéreo latino-americano, região atualmente dominada pela Latam Airlines, informa a Señal DF.
“Iniciamos 2025 com o anúncio da assinatura de um Memorando de Entendimento não vinculativo com a Azul Linhas Aéreas no Brasil para explorar uma combinação de negócios com a Gol, que visa fortalecer a conectividade nacional e internacional do Brasil, aumentar a competitividade e contribuir para o crescimento do setor aéreo no país, com marcas e certificados operacionais sendo discutidos”, explicou a Abra.
Expansão do grupo
O Abra Group é uma estrutura de holding formada por um acordo entre os principais acionistas da Avianca e o acionista controlador da GOL, mas que surgiu com o interesse de continuar agregando marcas icônicas, tarefa que vêm realizando ao longo deste último ano.
E o plano começa a tomar forma. Em janeiro, a Gol apresentou um plano estratégico que implementará nos próximos cinco anos para fortalecer sua posição de mercado e melhorar sua estrutura financeira.
O plano foi apresentado após a assinatura de um acordo com o Grupo Abra para sair do Capítulo 11. A Abra é a maior credora garantida e acionista majoritária da GOL.
“O processo está progredindo bem e, como Grupo Abra, apoiamos e continuamos apoiando todo o trabalho que a administração da Gol e todas as suas equipes fizeram para alcançar uma reestruturação bem-sucedida. Estamos entusiasmados com as perspectivas da Gol emergir do Capítulo 11 como uma entidade autônoma e bem capitalizada”, acrescentou a holding.
O acordo para sair do Capítulo 11, o processo judicial nos Estados Unidos que permite à companhia renegociar com credores, mantendo a operação da empresa, envolve a conversão de cerca de US$ 1 bilhão em dívida garantida em novas ações da companhia aérea que serão de propriedade da Abra, bem como US$ 850 milhões em dívida conversível. A holding passará a deter mais de 60% do capital da empresa.
Este plano de reestruturação envolve até US$ 2,5 bilhões da dívida da empresa sendo eliminada ou convertida em patrimônio e um DIP (Debtor-in-Possession, tipo de financiamento que permite a empresas em recuperação judicial obterem capital para reestruturar-se) de US$ 1 bilhão, juntamente com outros US$ 375 milhões de financiamento de locação.
O plano após a saída do Capítulo 11 é que seu índice de alavancagem líquida (dívida líquida/EBITDA) de 6,1 seja reduzido para 2,7 até o final de 2027 e para 1,9 até o final de 2029. Também projeta um aumento de 30 aeronaves em sua frota até 2029, passando de 137 para 167, com o que espera manter cerca de 30% do mercado doméstico no Brasil. No Brasil concorre com a LATAM e a Azul.
A possível fusão com a Azul ocorrerá quando a Gol estiver com sua situação financeira regularizada, ou seja, quando sair do Capítulo 11. Apesar da espera pela conclusão do processo de recuperação da Gol, já há progressos no acordo, informa o Diário Financeiro do Chile.
Por exemplo, a Azul nomeará o CEO da holding resultante da fusão e a Gol o presidente, unindo assim forças comerciais, operacionais e logísticas. Em termos de cobertura, ambas são complementares, já que a Gol está presente nas principais cidades, enquanto a Azul está presente em cidades menores.
Por esse motivo, o grupo indicou que ambas as marcas continuarão operando separadamente, já que o acordo ainda precisa passar por aprovações regulatórias no CADE, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
CEO da LATAM Brasil
Durante a Convenção de Vendas da operadora de turismo CVC de 2025, nesta sexta-feira (14), no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, Jerome Cadier, CEO da LATAM Brasil, afirmou nunca ter havido uma fusão deste tamanho no setor aéreo. E disse que tentativas nesse sentido “nunca foram em frente justamente pela preocupação das autoridades com a manutenção da concorrência dentro do mercado'. Jerome afirmou confiar no CADE para avaliação do possível impacto da fusão na concorrência.
“Tenho certeza que a seriedade do CADE vai fazer com que esta seja uma discussão bem detalhada”.
Um bom ano para a Avianca
Enquanto o grupo resolve a saída da Gol do Capítulo 11 e a futura fusão com a Azul, a Avianca continua melhorando seu desempenho.
A transformação da Avianca nos últimos três anos se concentrou em garantir uma operação com disciplina de custos, o que gerou resultados.
Segundo a Abra, a Avianca é hoje a segunda companhia aérea mais antiga do mundo e a principal operadora na Colômbia, Equador e América Central, com uma frota de mais de 140 aeronaves de passageiros e 7 aeronaves de carga; mais de 150 rotas em operação para 80 destinos e com uma equipe de mais de 14.700 funcionários a bordo.
“Desde sua saída do Capítulo 11 e como resultado da transformação de seu modelo de negócios e do cumprimento bem-sucedido do plano que traçou, hoje opera a mais extensa malha aérea de sua história, transporta o maior número de passageiros em seus 105 anos com 38 milhões de clientes mobilizados, conta com o programa de fidelidade mais reconhecido da região, que é o LifeMiles, e também se tornou líder em transporte de cargas nos diferentes mercados onde atua com a Avianca Cargo”, indicaram.
Do ponto de vista financeiro, a Avianca relatou resultados muito bons. Tanto que refinanciou antecipadamente parte do financiamento de saída e do crédito que tinha no nível do programa de fidelidade LifeMiles, permitindo à empresa adaptar os instrumentos de garantia que protege os interesses dos credores (covenants) à sua nova realidade e deixando a estrutura de capital sem vencimentos significativos nos próximos quatro anos. “Ela também manteve sua vantagem de custo operacional e reintroduziu produtos e serviços sempre que fazia sentido. No futuro, a Avianca está focada em continuar fortalecendo sua malha aérea e renovando sua frota com a chegada de novas aeronaves A320 Neo entre 2025 e 2031″, acrescentaram ao Señal DF.
A empresa informou em seus resultados do terceiro trimestre de 2024 que obteve US$ 1.366 milhões em receita, um aumento de 6,6% em comparação ao mesmo período de 2023.
Em termos de resultados, a Avianca registrou US$ 358 milhões em EBITDA (indicador financeiro que mostra a capacidade de uma empresa gerar caixa operacional) no terceiro trimestre, com margem de 26,2% e caixa no final do trimestre de US$ 1.122 milhões.
Além disso, expandiu o escopo de seu acordo de codeshare com a Clic Air, uma companhia aérea nacional da Colômbia, para conectar os voos regionais da Clic Air com 14 rotas internacionais da Avianca.
Ele também relatou que eles continuam a “cumprir mais de 150 iniciativas de redução de custos que nos permitem ter uma das estruturas de custos mais competitivas da região”.
A tarefa pendente é a abertura na bolsa de valores. A Investment Vehicle 1 Limited (holding do Grupo Avianca) anunciou sua intenção de protocolar confidencialmente um rascunho de declaração de registro na SEC (Securities and Exchange Commission).
” Isso nos dá a opção de eventualmente fazer uma Oferta Pública Inicial (IPO) e listar as ações da empresa em qualquer bolsa de valores dos EUA. Estamos trabalhando nisso e o que está em nossas mãos é ter tudo pronto para aproveitar as condições de mercado, caso sejam adequadas para um IPO", disse Abra.
Wamos Air: a aposta nos aviões
Em outubro, a Abra anunciou a adição da Wamos Air, uma empresa de leasing de aeronaves com tripulação (arrendamento com tripulação), à sua holding. Ele disse que este é um investimento estratégico que agora lhes permite ter uma frota de mais de 300 aeronaves para atender mais de 130 destinos em mais de 25 países na América e na Europa.
Com sede em Madri, a Wamos operou em mais de 200 aeroportos e 87 países no ano passado, transportando mais de três milhões de passageiros para companhias aéreas como Air Europa, Air New Zealand, Avianca, Aer Lingus, Condor, Etihad, Iberia, Level, Saudia Airlines, TAP Air Portugal, TUI, entre muitas outras companhias aéreas.
O objetivo da Abra é aproveitar a escassez de aeronaves pela qual o setor aéreo está passando, já que a Wamos Air permite o acesso às aeronaves durante o período sazonal e não precisa optar por arrendamentos permanentes por períodos mais longos quando as aeronaves não são necessárias.
“A Wamos Air é uma joia no mundo do leasing de aeronaves. Sua incorporação ao grupo se encaixa perfeitamente em nossa estratégia, pois passamos a ter uma empresa com experiência global atuando em múltiplos mercados, um modelo de negócio completamente alinhado ao nosso propósito de fortalecer a conectividade na América Latina – neste caso com a Europa. Mas talvez o mais interessante é que ela tem uma frota de fuselagem larga - e uma licença aérea europeia - o que nos permite, como grupo, ter maior margem de manobra com esse tipo de frota para nossa operação de longo curso, em um momento em que a indústria em nível global não tem disponibilidade suficiente dessas aeronaves. Tudo isso o torna muito interessante e nos fortalece como Grupo", explicou a holding.
Próximo passo: consolidação no cone sul
Com a Avianca, a Gol - e futuramente a Azul - e com a Wamos, a Abra se torna um grupo com boa cobertura no Equador, Colômbia, América Central e Brasil, deixando uma questão pendente: o cone sul da América.
“O mercado do Cone Sul é obviamente relevante para nós, considerando que a rede que o Grupo tem hoje como um todo permitiria fornecer maior conectividade aos países desta parte da região com o resto das Américas e até mesmo com a Europa. E, nesse sentido, temos diversas formas de enfrentar esse desafio. A Sky Airlines é obviamente uma opção. Como é de conhecimento público, durante a pandemia fizemos um empréstimo à empresa que pode ser convertido em ações. Nesse sentido, assim como a Abra, gostaríamos de trazer a Sky para o Grupo de forma mais completa e acreditamos que há muito valor para ambas as partes nisso. Mas, neste momento, não depende só de nós”, disse a holding.
A Abra possui um título conversível equivalente a 40% da propriedade da companhia aérea chilena de propriedade de Holger Paulmann. Uma opção é Paulmann adquirir uma participação na holding, incorporando assim a Sky à plataforma da Abra.
Abra acrescenta que a operação da Sky tem muitas vantagens. “Uma delas é a presença em mercados como Chile, Peru e Argentina, claro. Mas talvez o mais importante seja que a Sky tem uma identidade e uma cultura que se encaixam muito bem com o nosso grupo. Temos uma visão compartilhada. A Sky também fez um bom trabalho em outras áreas. Por exemplo, possui uma das frotas mais modernas da região e durante vários anos recebeu diversos prêmios como a melhor companhia aérea regional da América do Sul e foi premiada como a melhor companhia aérea de baixo custo da América Latina. Nos últimos anos, ela também conseguiu permanecer consistentemente entre as 10 companhias aéreas mais pontuais da região, o que também demonstra seu foco na excelência operacional. No geral, é uma empresa que se concentrou em democratizar o serviço em uma região como a nossa, onde, mais uma vez, a aviação é fundamental, e isso lhe permitiu consolidar uma posição interessante na região”, disseram.
Este ano é crucial para as negociações entre a Sky Airlines e o Abra Group, pois o empréstimo deve ser pago em 2026. Enquanto isso, eles ressaltam que, como Grupo, estarão muito focados em pelo menos três grandes projetos neste ano. “Primeiro, continue a apoiar a saída bem-sucedida da Gol do Capítulo 11 com um plano forte, independente e sustentável. Também estamos focados em continuar avaliando, junto com a Azul, a possibilidade de uma combinação de negócios que nos permita ter duas empresas fortes no Brasil. Da mesma forma, e se as condições de mercado forem favoráveis, continuamos nos preparando para um possível IPO da controladora da Avianca em uma das bolsas de valores dos Estados Unidos. E, enquanto isso, como Grupo, continuamos trabalhando para capturar novas eficiências que nos permitam aproveitar a possibilidade de termos juntas empresas como Avianca, Gol e Wamos, que hoje são líderes em cada um de seus mercados, sempre focadas em consolidar um grupo aéreo líder e que seja uma alternativa para a região”, concluíram.