Controle de qualidade e segurança em aeronaves pode impactar no consumidor final, diz especialista
Empresa nos EUA que fornece componentes para a GE - responsável pelo desenvolvimento e montagem de motores que equipam aeronaves Boeing - já sente os efeitos

As constantes falhas de segurança e de controle de qualidade em aeronaves, especialmente em modelos da Boeing, que têm colocado em risco a vida de passageiros e tripulação, voltou a ganhar destaque após o aumento recorrente de incidentes nos últimos anos. A pressão por níveis mais elevados de controle de qualidade, que garantam que as instruções de trabalho sejam à prova de erros e que a qualidade seja continuamente monitorada, poderá ter impactos significativos em toda a cadeia de suprimentos e, consequentemente, no consumidor final, afirma especialista da indústria.
Segundo o engenheiro mecânico e diretor de operações da Hi Tech Honeycomb, Rodolpho Pereira, a exigência por padrões mais rigorosos afeta todos os fornecedores de componentes aeronáuticos. “Cada fornecedor precisa garantir que seus produtos atendam aos padrões mais rigorosos”, afirma Pereira. A Hi Tech Honeycomb, empresa onde é diretor de operações, Localizada na Califórnia, Estados Unidos, fornece componentes para a GE, General Electric, – responsável pelo desenvolvimento e montagem de motores que equipam aeronaves Boeing – já sente os efeitos dessa pressão crescente.
Aumentos nas Queixas de Funcionários e Impactos na Produção
Um relatório interno da Boeing revelou um aumento de seis vezes nas queixas dos funcionários sobre segurança e qualidade de produção. Este aumento ocorreu após um incidente em janeiro, quando uma porta auxiliar de emergência de um 737 MAX 9 da Alaska Airlines se soltou em pleno voo. Esse incidente levou a FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA) a suspender temporariamente a produção do modelo, forçando companhias aéreas a aterrarem a aeronave.
A investigação interna da Boeing apontou falta de sinergia nos processos de gestão entre a administração e os funcionários responsáveis pela cultura de segurança. Este descompasso resultou em falhas graves, como parafusos soltos e componentes mal instalados, que comprometeram a segurança de voo.
Pressões e Consequências para os Fornecedores x Efeito Cascata e Impacto no Consumidor Final
A Boeing tem pressionado seus fornecedores para atenderem aos novos requisitos de qualidade. Em um memorando recente, a empresa destacou a necessidade de documentar os requisitos de torque, exigir que os mecânicos registrem a quantidade de torque aplicada e garantir que as ferramentas estejam devidamente calibradas. Essas medidas são cruciais para evitar falhas como as que ocorreram em janeiro.
Rodolpho Pereira comentou sobre o impacto dessas exigências na cadeia de fornecimento. “A Boeing exerce uma rigorosa pressão sobre seus fornecedores diretos para garantir que todos os componentes atendam aos mais altos padrões de qualidade e segurança. Esses fornecedores, por sua vez, repassam essa exigência para nós, que fornecemos componentes críticos para a GE Aviation, responsável pela montagem dos motores que equipam as aeronaves da Boeing. Esse efeito cascata resulta em um aumento significativo nos níveis de qualidade, atenção e excelência exigidos em cada etapa do processo de fabricação.
Como Diretor do Segmento Aeronáutico, nossa missão é assegurar que nossos processos e produtos não apenas atendam, mas superem esses rigorosos padrões. A segurança de voo é nossa prioridade absoluta e para isso, implementamos melhorias contínuas em nossos sistemas de controle de qualidade, treinamento de pessoal e inovação tecnológica. Estamos comprometidos em elevar constantemente a barra da qualidade, garantindo que cada componente produzido contribua para a segurança e eficiência das aeronaves”, explica o engenheiro.
Os órgãos reguladores, como a FAA nos EUA e a ANAC no Brasil, também têm aumentado suas exigências. Esse rigor adicional causa um efeito cascata, onde cada fornecedor na cadeia de suprimentos precisa aumentar seus padrões de qualidade. Pereira alerta que esses custos adicionais acabam sendo repassados ao consumidor final. “No fim, alguém vai pagar essa conta”, ressalta.
Desafios e Futuro da Boeing
Os desafios para a Boeing são significativos. Após uma série de incidentes e falhas de qualidade, a empresa está focada em reconstruir sua reputação. Em dezembro de 2023, a Boeing já havia solicitado inspeções adicionais nos 737 MAX para possíveis parafusos soltos no sistema de controle do leme.
A empresa enfrenta uma situação complicada com a necessidade de garantir a segurança de suas aeronaves enquanto lida com a pressão regulatória e a necessidade de manter a produção em níveis sustentáveis. A Boeing anunciou um plano de cinco pontos para garantir a qualidade, incluindo o aumento de inspeções e a melhoria dos processos de gestão de qualidade.
Os recentes incidentes envolvendo a Boeing e a subsequente pressão por controles de qualidade mais rígidos estão criando uma série de desafios para a indústria aeronáutica. O impacto será sentido por toda a cadeia de suprimentos, elevando os custos e, inevitavelmente, repassando esses aumentos ao consumidor final. A segurança de voo, no entanto, permanece como a principal prioridade, com esforços contínuos para garantir que falhas como as recentes não se repitam.