Neve congela equipamento, e avião faz pouso de emergência
Incidente foi considerado grave. 209 pessoas estavam a bordo do A321Neo, que, após voar às cegas, pousou em segurança
Luiz Fara Monteiro|Do R7

Cinco horas e quarenta e cinco minutos de voo separam as cidades de Magadan e Novosibirsk, na Rússia.
Duas grandes companhias aéreas locais operam a rota doméstica: a Aeroflot, com um voo de uma escala, e a S7, que voa direto entre as duas cidades.
As 209 pessoas que embarcaram em Magadan no Airbus A321Neo da S7 no último 2 de dezembro não imaginavam que a aeronave passaria por uma situação extrema de emergência no voo S75220.
A aeronave, que pousou em Magadan às 9h12 procedente de Novosibirsk, decolou às 11h42 para realizar o voo de volta.
A temperatura em Magadan naquele dia era de -11ºC. Nevava na cidade de 100 mil habitantes, cuja principal atividade econômica é a indústria naval e de pesca.
Antes de partir, o A321Neo passou por uma operação de degelo (de-icing), o que é comum em regiões de extremo inverno.
Durante o de-icing, um caminhão aplicou jatos com uma substância especial para derreter a neve que se acumulou nas asas e no estabilizador horizontal do avião, de matrícula VQ-BGU.
Segundo o Aviation Safety Network, a neve que se acumulou no topo da fuselagem, no entanto, não foi removida. Como os pilotos ligaram o aquecimento do pára-brisa, a neve começou a derreter, fazendo com que uma grande quantidade de água escorresse da fuselagem da aeronave.
Logo após a decolagem, os fluxos de neve derretida começaram a congelar, o que criou cristais de gelo nas laterais da fuselagem dianteira, causando um fluxo de ar irregular para os tubos de Pitot, que dão referências de navegação, como velocidade, estática e ângulo de ataque.

Tubos de Pitot, também chamados de sondas Pitot, são peças cruciais das aeronaves usadas para medir uma série de dados importantes. Os tubos fornecem aos pilotos uma medida de sua velocidade no ar, além de altitude e a tendência da altitude. Eles são normalmente encontrados ao longo da fuselagem frontal ou ao longo da asa de uma aeronave.
Foi nesse instante que o A321Neo sofreu com referências de dados aéreos (ADR) não confiáveis, como velocidade e altitude. O problema fez o piloto automático se desconectar cerca de um minuto após a decolagem.
A tripulação se viu em apuros, uma vez que vários parâmetros de voo mostraram oscilações rápidas por cerca de sete minutos: a atitude de inclinação oscilou com -23,9° e +43,6°, sendo os valores mais extremos alcançados. Nesse período, a aeronave oscilou entre movimentos para a esquerda e para a direita com os valores extremos entre + 49,8° e -91,1°.
A aeronave subiu rapidamente de 4.699 pés (1.433 metros) para 14.351 pés (4.377 metros) e então desceu rapidamente para 5.084 pés (1.550 metros). A partir de então, a altitude permaneceu difícil de controlar.
Logo depois, a maioria dos parâmetros de voo se estabilizou, quando o voo começou a subir para a altitude de cruzeiro. Assim que o controle foi retomado, a tripulação decidiu desviar para o aeroporto de Irkutsk, onde pousou em segurança.
Uma investigação preliminar descobriu que a aeronave da S7 Airlines sofreu uma interrupção em três sistemas de dados aéreos logo após a decolagem de Magadan, levando a discrepâncias nas informações de velocidade do ar e consequentes problemas de controle.
A interrupção no funcionamento dos tubos Pitot por causa de congelamento foi um dos fatores contribuintes para a queda do voo AF 447, da Air France, no Atlântico, em 1º de junho de 2009. O A330 decolou do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio, rumo a Paris, na França. Os 228 ocupantes morreram.