O caso da idosa que morreu durante um voo dos Estados Unidos para o Brasil nesta semana traz de volta a questão: o que acontece quando alguém morre em viagem? Uma emergência médica ocorre nos céus cerca de uma vez a cada 600 voos, segundo um estudo do New England Journal of Medicine. As ocorrências mais comuns são desmaios, problemas respiratórios, problemas cardíacos e náuseas ou vômitos. O estudo constatou que é raro uma emergência durante um voo terminar em morte, mas o pior resultado ocorre em 0,3% das vezes.O que acontece depois? Apesar do que você pode ter ouvido, os membros da tripulação não escondem o corpo no banheiro (isso parece uma piada de mau gosto que muitas pessoas levaram a sério) e os pilotos não precisam automaticamente fazer um pouso de emergência. Surpreendentemente, a Administração Federal de Aviação (FAA), a agência governamental dos EUA que regula a segurança nas viagens aéreas, não oferece muita orientação quando se trata de morte médica durante o voo (além da determinação de que o incidente seja relatado adequadamente). Os regulamentos da FAA exigem que as aeronaves transportem kits de equipamentos médicos de emergência — incluindo um desfibrilador externo automático — e também que os comissários de bordo recebam treinamento, incluindo de ressuscitação cardiopulmonar, ou RCP, para emergências médicas. No entanto, a maioria das companhias aéreas estabelece as próprias regras para lidar com situações nas quais os kits e o treinamento não evitam uma morte. Felizmente, as transportadoras criaram protocolos em conformidade com diretrizes não vinculativas elaboradas pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), grupo que representa as empresas de aviação mundiais. A Iata recomenda aos membros da tripulação de voo que continuem tentando a RCP no passageiro por pelo menos 30 minutos, a menos que a respiração e os batimentos cardíacos sejam retomados ou as condições do voo se tornem inseguras devido à turbulência ou outros obstáculos. Durante a emergência, os tripulantes também solicitam o atendimento de qualquer médico a bordo do avião. E isso não é apenas para obter ajuda profissional, mas também porque somente um médico pode declarar legalmente a morte de alguém. Se não houver médicos na cabine, um passageiro inconsciente, sem respirar e sem resposta será considerado morto. A tripulação de voo notificará imediatamente a cabine durante uma emergência a bordo para que o comandante possa contatar uma das organizações que oferecem assistência médica por meio de comunicação de áudio do solo. Esses médicos em terra aconselharão o piloto sobre se um pouso de emergência pode ajudar a pessoa com problema médico. No caso de morte de um passageiro (presumida ou verificada por médico), notificar a cabine será novamente a principal prioridade dos comissários de bordo para que o comandante possa alertar o aeroporto de destino e preparar as autoridades competentes para receber o voo no pouso. Não é necessário um pouso de emergência. Na verdade, é altamente provável que a tripulação de voo, o médico de bordo (se presente) e os consultores médicos remotos determinem que não faz sentido pousar ou desviar o avião de seu curso original se um passageiro estiver morto. Afinal, como isso ajudaria? A próxima tarefa, então, é cuidar do corpo durante o restante do voo. A Iata recomenda transferir o corpo para um assento com “poucos passageiros por perto”, como na classe executiva ou em uma fila com assentos vazios. No entanto, isso não é possível num voo lotado; então a Iata diz que os membros da tripulação devem “colocar o corpo de volta no próprio assento” na posição vertical, usando o cinto de segurança ou outro equipamento de retenção para manter o corpo no lugar. “Feche os olhos e cubra o corpo com um cobertor até o pescoço”, aconselha a Iata, caso não haja um saco para cadáveres disponível. Assim que o avião pousar, o corpo e quem viaja com o falecido deverão permanecer onde estão enquanto os demais passageiros desembarcam. Nesse ponto, os profissionais médicos e as autoridades aeroportuárias assumem o controle. Como em qualquer situação de fim de vida, a preservação da dignidade e o exercício da compaixão devem ter precedência acima de tudo, conclui reportagem da Frommers.