A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), parceira da Fruit Attraction São Paulo, que aconteceu nesta semana na capital paulista, organizou fóruns, rodadas de negócios e discussões estratégicas sobre o setor. Com um grande estande no evento, promoveu encontros entre produtores, compradores e especialistas.A entidade, criada há 10 anos, exportava, em 2014, 650 milhões de dólares em frutas. Hoje, o Brasil exporta 1 bilhão e 300 milhões de dólares.O Mundo Agro visitou a Fruit Attraction e conversou com Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas, engenheiro agrônomo e produtor de uva e manga no Vale do São Francisco.Mundo Agro: Qual a importância de recebermos a 2ª edição de uma feira internacional como a Fruit Attraction?Guilherme Coelho: Abrir mercado. A gente vê a demanda dos nossos associados, que são noventa. Quando um país, algum embaixador ou um amigo agrícola bate à nossa porta e diz: “Olha, queremos receber essa fruta”, nos perguntamos: como surgiu essa feira? A associação é muito atuante. Todo ano, três ou quatro vezes por ano, eu ia a feiras internacionais e me perguntava: por que não teríamos uma aqui? Esse ano, a feira dobrou de tamanho. Em três dias, os corredores ficaram lotados. Tivemos várias atuações. A feira é completa: book shows, palestras, rodadas de negócios. E também teve o “tete-a-tete”. Estamos impressionados com a quantidade de importadores que participaram: 20 países, nove estados.Mundo Agro: O que a fruta brasileira tem de especial?Guilherme Coelho: Tem um camarada que foi muito bom conosco. Eu sou muito ligado a ele, chamado Deus. Deus chegou para nós lá nos vales, uma região que tinha o destino de ser pobre, pois no semiárido não chove. Então, o destino era ser pobre. Lugar que não chove, não tem água, não serve para nada. Mas Deus foi bom. Ele nos deu o sol, de graça. O sol vem para você e não cobra nada. Aí Ele achou pouco e deu o Rio São Francisco. Não cobrou nada. E deu as terras. E mais ainda, Ele colocou na minha cabeça, e na cabeça das pessoas que lá trabalham, a coragem, a perseverança, o desejo de produzir. Essas pessoas não têm medo do sol, da poeira ou da chuva. Querem produzir. E assim iniciamos. Hoje, o Vale do São Francisco é o maior polo de fruticultura do Brasil. 37% da produção sai de lá. É um exemplo de sucesso. É um verdadeiro case. E aí Deus também pensou no país, distribuindo as frutas por várias regiões. Açaí no Norte, maçã no Sul, laranja no estado de São Paulo. Ele dividiu tudo. Hoje, estamos presentes no mundo inteiro. Esse semiárido, que ninguém tem, permite que produzamos durante 52 semanas por ano. O Chile, por exemplo, tem uma produção sazonal, mas nós não. Produzimos onde ninguém mais pode. Esse é o nosso grande diferencial.Mundo Agro: E a sustentabilidade na fruticultura?Guilherme Coelho: Hoje, temos uma agricultura e fruticultura sustentáveis e responsáveis. Três letras nos balizam: ESG (Environmental, Social, and Governance). Não desmatamos nada, não queimamos florestas. O que buscamos é produzir com qualidade para exportar ao mundo.Mundo Agro: Qual a importância da fruticultura para a geração de empregos?Guilherme Coelho: A maior fazenda de grãos do Brasil tem 620 mil hectares. Essa fazenda é de soja, milho e algodão, tudo automatizado. E ela emprega 8 mil pessoas. A maior fazenda de frutas do Brasil, uma agrícola famosa de melão, que é colhido em 60 dias, emprega 8 mil pessoas em 8 mil hectares. Ou seja, 620 mil hectares geram 8 mil empregos, e 8 mil hectares de frutas geram os mesmos 8 mil empregos. O emprego no agro, no caso, é a fruticultura. A fruticultura tem algo mágico e bonito, que é a inclusão.Mundo Agro: Qual é o papel da mulher na fruticultura?Guilherme Coelho: Hoje, a mulher está presente em todos os negócios do agro e da fruticultura. Ela é CEO, gerente, engenheira agrônoma, técnica agrícola, engenheira do trabalho... ela está em tudo. E também está, como sabemos, embalar frutas nos packing houses. Você quer quebrar uma fazenda? Coloque o homem para embalar a fruta. Agora, quer ganhar dinheiro? Coloque as mulheres. Isso é o belo da fruticultura. O homem tem seu trabalho e salário dentro de casa, mas as mulheres contribuem de maneira significativa para a renda familiar. Elas estão espalhadas por todo o Brasil. Nos packing houses, 100% dos trabalhadores são mulheres. Isso nos encanta e nos impulsiona a continuar crescendo.Mundo Agro: Como está o mercado? Como foi 2024 e qual a projeção para este ano?Guilherme Coelho: De 2022 para 2023, crescemos 26% em exportações em dólares. De 2023 para 2024, crescemos 6%. O que está anunciando o ano? A falta de chuva no Nordeste. Quando chove muito no Nordeste, as frutas como uva, manga e melão, que são sensíveis ao clima, podem não ser adequadas para exportação. Este ano foi seco, e isso nos dá uma boa perspectiva: devemos bater um novo recorde de exportações. E a feira aqui é a mola propulsora disso, é quem agita o mercado.Mundo Agro: O que o setor necessita neste momento?Guilherme Coelho: Precisamos de um país que pense no pós-porteira: nas estradas, nos portos, aeroportos e na desburocratização. Recentemente, tive que agradecer ao ministro Carlos Favaro. Antigamente, para um container viajar, precisava de um papel físico. O container viajava, mas o papel não ia junto, então era uma confusão. Hoje, tudo é eletrônico. Foi um grande passo que tivemos nessa área.Mundo Agro: O senhor gosta de qual fruta? Qual não pode faltar na sua casa?Guilherme Coelho: Sou suspeito, pois sou produtor de manga e uva. Mas, gosto muito de manga, jaca, jabuticaba, mamão, melão...Mundo Agro: O senhor então gosta de tudo? (risos)Guilherme Coelho: (risos) Sim!Mundo Agro: O brasileiro é um bom consumidor de frutas?Guilherme Coelho: A Organização Mundial da Saúde recomenda consumir 170 quilos de frutas por ano para manter uma boa saúde. No Brasil, estamos consumindo cerca de 70 a 80 quilos. Precisamos consumir mais.Mundo Agro: Um desafio para o setor?Guilherme Coelho: O Brasil exporta muito pouco. Precisamos exportar mais. Nenhum país tem 220 milhões de habitantes, consegue alimentar sua população e ainda exportar. Mas precisamos melhorar nesse aspecto.