Em janeiro, as exportações do agronegócio brasileiro totalizaram US$ 11 bilhões. Apesar de uma redução de 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado e de 5,7% comparado a dezembro, tivemos o segundo melhor mês de janeiro da história, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).Embora tenha ocorrido uma queda, houve alta nos preços. Os dados de embarques de fevereiro podem se destacar, especialmente com as exportações de frango, boi e suínos.Confira abaixo o meu bate-papo com César Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.Mundo Agro: O que esperar dos números de fevereiro?César Castro Alves: Em relação a fevereiro do ano passado, devemos ver uma queda na quantidade de soja embarcada, devido ao atraso na colheita, o que deverá ser compensado nos meses subsequentes. Portanto, março, abril e maio devem apresentar um crescimento bem maior, à medida que a colheita for finalizada, e os volumes tendem a crescer consideravelmente. A safra deste ano será maior do que a do ano passado, por isso esperamos uma grande concentração de exportações nos próximos meses. Já as carnes devem ter bom crescimento em fevereiro. Frango, boi e até suínos — as três proteínas — devem apresentar números melhores do que em fevereiro do ano passado, possivelmente alcançando recordes para o mês. Então, sim, há uma melhora nas carnes, em termos de quantidade, em relação a fevereiro do ano passado.Mundo Agro: As exportações tiveram uma queda em janeiro em comparação com dezembro, mas ainda assim foi a segunda melhor da história. O que explica essa queda? Quais fatores influenciaram?César Castro Alves: As exportações caíram em relação a dezembro, mas, como você mencionou, ainda foi o segundo melhor mês da história. O que explica essa queda foram os envios menores de soja, principalmente em janeiro. Comparado a janeiro de 2024, a colheita de soja foi mais rápida no ano passado, enquanto este ano está mais atrasada. Isso afetou diretamente o número de exportações no mês, e também deverá impactar o mês de fevereiro, em relação ao mesmo mês do ano passado. A queda da soja, que é o principal produto exportado, explica em grande parte o resultado de janeiro.Mundo Agro: Soja e carne bovina tiveram queda, mas atingiram preços mais altos. O dólar ajudou, né?César Castro Alves: Na verdade, não. No caso da soja, o preço de exportação do grão em dólares caiu 5,5% frente a dezembro e 20% em relação a janeiro do ano passado. Já o preço da carne bovina teve uma alta de 1,5% em relação a dezembro e 11% sobre janeiro do ano passado. Essa alta na carne bovina ocorreu devido ao aumento do preço do gado ao longo do segundo semestre do ano passado, o que se manteve no início de 2025. O boi continuou firme, o que ajudou a corrigir o preço de exportação da carne bovina em dólares. Esse preço tem subido há meses, podendo eventualmente dar uma acomodada em fevereiro, mas a tendência é de recuperação, muito por conta da elevação no preço do gado.Mundo Agro: Café e algodão foram os destaques de alta tanto nos embarques quanto nos preços?César Castro Alves: Sim, no caso do café, as exportações foram bem fortes no ano passado e continuaram a crescer em janeiro. Isso se deve à escassez global de café. O Brasil tem exportado o remanescente dos estoques da safra passada, em um contexto de forte elevação de preços mundial. Isso resultou em preços mais altos de exportação de café, tanto em relação ao mês de dezembro, com uma alta de 8,7%, quanto a janeiro do ano passado, com um aumento de 63%. No caso do algodão, também houve um bom desempenho, já que a paridade de exportação ficou mais atrativa devido à valorização do dólar. O Brasil teve recorde de exportações em janeiro, com a Ásia adquirindo 87% do volume, principalmente Paquistão, Vietnã e China. Apesar de preços 11% menores em relação a janeiro do ano passado, o Brasil colheu uma safra recorde de algodão no ano passado, o que aumentou bastante a disponibilidade para os envios. Para este ano, a expectativa também é de uma colheita recorde.