Chácara Klabin tem ruas que parecem conversar com o tempo

Ele andava pela avenida, vindo da padaria. Percorria a calçada, ao lado dos canteiros dos prédios. Já não havia mais quase terrenos desocupados no bairro, antes um loteamento de chácaras, depois favela e depois região residencial.

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Mas as construções não tiraram o ar bucólico. Concreto urbano nenhum consegue desfazer a beleza de uma manhã. Se for de sol, pelo brilho. Se nublada, pelo mistério.

Isso vale também para tardes como aquela, em que ele caminhava despretensiosamente, vindo da padaria.

Os carros passavam mansamente. Um vento suave soprava desde o alto da rua, lá na frente. Antes, aquilo tudo era um vale.

Lá em cima, no semáforo, depois da grande praça, o topo de um morro. A própria atmosfera contava essa história. No céu, por entre os vãos de árvores e prédios, sentia o movimento das nuvens cinzentas.

Parecia ouvir as vozes do tempo, vindas de algum lugar remoto, mas presente. Eterno.

Na esquina, ele subiu por uma trilha, em uma praça saliente. Roçou o rosto em uma folha de um galho pendido.

Cruzou a terra como se atravessasse um bosque. Chegou à rua como se encontrasse um rio, após travessia na mata.

As ruas tinham nomes de filósofos, Montesquieu, Voltaire, a apontarem para uma mistura entre razão e emoção.

Subiu por outra encosta em relevo, entre o muro de um prédio e nova praça arborizada. Na curva, descia um vizinho. Cumprimentaram-se afetuosamente.

Recebeu o elogio por um texto. E se despediram, indo cada um em uma direção.

Ele subia em direção à sua casa e o vizinho tomava o rumo dos bosques e da avenida.

Então entendeu. O movimento anterior dos céus, o vento, a dança das árvores. Sua conversa com o tempo. Sua reflexão. A cidade que se comunica. A emoção. Os filósofos. Eram um aviso. Em instantes, ele teria um encontro.

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