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O que é que eu faço Sophia Dólar cai 13% no ano; entenda por que a moeda está em queda mesmo com guerra na Europa

Dólar cai 13% no ano; entenda por que a moeda está em queda mesmo com guerra na Europa

Moeda fechou em R$ 4,84; Brasil tem atraído dólares por causa dos juros altos e por ser um grande produtor agrícola

Especialistas não aconselham compra do papel para investir

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Daniel Dan/Pexels

O dólar caiu pela sexta vez seguida ante o real e atingiu o menor nível em dois anos nesta quarta-feira (23). A moeda americana perdeu 1,44% no dia e fechou a R$ 4,8446 para a venda, o menor valor para encerramento desde 13 de março de 2020 (R$ 4,8128).

Em 2022, o dólar acumula queda de 13,11% ante a moeda brasileira, o que deixa o real com a melhor performance global acumulada até o momento.

Parece estranho que a moeda brasileira se valorize enquanto acontece uma guerra entre uma superpotência como a Rússia e a Ucrânia, em plena Europa. Isso, em tese, faria com que a aversão ao risco e o medo de que o conflito se estenda por mais países levassem os investidores estrangeiros a buscar proteção para o seu dinheiro em "portos seguros" como ouro e dólar, considerado uma moeda de "reserva de emergência" para os países.

Porém essa guerra tem feito exatamente o contrário, valorizando a moeda brasileira em relação ao dólar. Por quê?

Por que o real está se valorizando mesmo com uma guerra?

A coluna ouviu dois especialistas para explicar por que isso está acontecendo: Rachel de Sá,  chefe de economia da Rico Investimentos, e Carlos Heitor Campani, professor de finanças do Coppead/UFRJ.

Rachel de Sá explica que, apesar de um ambiente de guerra causar mais aversão ao risco, o que em tese seria negativo para países emergentes como o Brasil, que são considerados mais arriscados e afastariam os investidores estrangeiros, essa guerra tem a característica de envolver dois grandes produtores de commodities, Rússia e Ucrânia. Esses países produzem muitas commodities minerais, agrícolas e energéticas, como trigo, petróleo, alumínio e ouro, por exemplo. 

Com a perspectiva de diminuição da produção desses países, os produtores de commodities como o Brasil acabam se "beneficiando" dessa briga, já que os demais países vão comprar os produtos de nações que não estão em guerra e, portanto, têm o que vender.

A economista explica também que o Brasil já vinha num movimento de valorização do real antes mesmo de a guerra estourar, porque com o retorno do mundo à normalidade após o pico da pandemia os países voltaram a buscar commodities para produzir. Mas, por conta da própria pandemia e por problemas climáticos, a produção de commodities já era mais baixa.

Em economia, quando um produto está em falta, seu preço aumenta. E é por isso que um país que produz mercadorias de que os demais estão precisando recebe mais dinheiro. Não é isso o que acontece no mercado da esquina? Se todo mundo quer comprar papel higiênico e o papel higiênico acaba, quem tem estoque vai poder aumentar o preço, porque os compradores vão disputar o produto. Essa é a chamada lei da oferta e da demanda, e é o que acontece com tudo o que é produzido e que tem valor econômico.

Como os estrangeiros estão trazendo dólares para comprar produtos em reais, existe maior oferta da moeda, seu preço cai e o o real se valoriza.

Alta dos juros no Brasil atrai capital estrangeiro

Outro fator que também está atraindo os investidores é a forte alta da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, que passou de 2% ao ano em março de 2021 para 11,75% ao ano em apenas 12 meses e deve alcançar 12,75% ao ano já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária.

Quem explica esse movimento é o professor Carlos Heitor Campani, da Coppead/UFRJ. "Se o investidor internacional investir em dólar lá fora, vai ganhar 2% por ano, e olhe lá. E aqui nossa taxa está em 11,75% ao ano, o que, mesmo descontado o risco da flutuação cambial, representa um ganho potencial real para o investidor", diz.

"O termômetro é a Bolsa brasileira, que neste primeiro trimestre, que ainda nem terminou, já recebeu mais dólares do que no ano passado inteiro", diz.

Outro motivo para que o real esteja se valorizando é a percepção dos investidores de que ele está desvalorizado demais, ou seja, o Brasil está barato, é uma pechincha.

"O Brasil continua sendo um bom negócio, e o investidor internacional está começando a achar que vale a pena o risco Brasil. Todos esses componentes juntos estão pressionando para o mesmo lado, para que o dólar caia e o real se fortaleça", diz Campani.

O real vai continuar caindo? Devo esperar para comprar dólar?

A tendência é que esse movimento de alta do real não se sustente a longo prazo, porque os Estados Unidos, devido à inflação alta, têm anunciado que devem aumentar sua taxa de juros. Se isso acontecer, haverá a tendência de os investidores tirarem dinheiro daqui e colocarem lá.

Outro ponto importante, lembram os especialistas, é que quem precisa da moeda porque terá gastos em dólar como viagens ou compras deve se proteger das altas fazendo o chamado preço médio, que significa comprar a moeda aos poucos, aproveitando eventuais baixas.

"Mas nunca se deve tentar acertar o preço mínimo que uma moeda estrangeira pode alcançar, porque se pode perder muito dinheiro", alerta Rachel de Sá. Não se deve "comprar dólar, mas investir em dólar", diz.

Quem quer se proteger de eventuais variações do dólar não deve "comprar" a moeda em papel físico, mas sim investir na moeda, em ativos que estejam atrelados ao dólar, como por exemplo fundos que investem em índices de bolsa estrangeira ou comprando ações que se beneficiam da alta do dólar, explica Rachel.

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Se ainda tiver mais dúvidas sobre economia, dinheiro, direitos e tudo o mais que mexe com o seu bolso, envie suas perguntas para “O que é que eu faço, Sophia?” pelo e-mail sophiacamargo@r7.com

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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